sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Novos hóspedes








A vida neste mato sem cachorro continua tranquila, não há nada que possa alterar esta rotina caseira, florestal, mineral, ou lá o que seja esta quietude externa, porque a interna continua procurando algo novo, como sempre.


Esta semana a rotina foi quebrada infelizmente por um acidente fatal. Então é bom não desejar muito que algo aconteça por aqui porque pode deprimir mais ainda. O empregado de uma companhia desceu mina abaixo de caminhão e só foi parado por um bloco de rocha dura que não aliviou sua agonia. O choque foi desastroso e ele não teve tempo nem de pular pra fora do veículo, e a morte o recebeu de frente. Muito triste.


Mas a vida continua e temos mostra tripla acima da porta de nossa varanda. A alguns dias atrás um passarinho trazia gravetos e numa engenharia perfeita produziu um berço esplêndido para os ovos que logo em seguida foi colocando. Nosso geólogo sempre de plantão deu sinal do acontecido e feliz da vida veio me dizer que tínhamos hóspedes. Como assim, perguntei? E ele, vibrando, disse que a mamãe passarinho chocava pacientemente seus ovinhos e só saía para comer mas voltava literalmente voando pra não deixar seus filhotes desprovidos de calor, sujeitos às intempéries e aos predadores de ovos que imagino serem muitos por aqui.


Não dei muita bola, estes passarinhos andaram me irritando. Volta e meia faziam uma reviravolta na terra, especialmente num determinado vaso de plantas da varanda da frente, que me deixava furiosa. Eu resmungava alto, querendo que eles entendessem a minha indignação, e mas abaixava pra reunia a bagunça deixada no chão. Terra, folhas secas e pedacinhos de pau. Eu não entendia nada e os achava muito atrevidos e violentos. Que a mãe natureza me perdoe mas a sujeira era grande e eu não entendia nada de passarinhos.


Ontem pela manhã notei que a mãe passarinha ia e vinha do ninho. Com o olhar mais atento notei que ela levava comida na bico e rapidamente entendi que poderiam ser para os filhotes recém-nascidos. Peguei um banco, minha câmera fotográfica e com um certo medo de ser atacada pela maezona, posicionei a máquina de forma que o seu visor móvel me deixasse ver o que havia dentro do ninho estando por baixo dele.


Não deu outra, ali estavam três criaturinhas peladas, com cabeça, membros e olhos ainda fechados de um negro inchaço, fazendo com que parecessem ETs. Não sei bem o que senti mas meus dedos instantaneamente reagiram disparando o botão da máquina. A cada clicada as avezinhas respondiam com reflexo e abriam a boca. Um movimento natural, não aprendido e que naturalmente garantiria o resto do processo da gestação.


Felizmente a maezona não se meteu comigo e acho até que ficou apreensiva vendo aquela invasão de privacidade. Caminhava agitada na murinho próximo, talvez se preparando pra atacar caso eu resolvesse colocar a mão na prole.


Hoje fui olhá-los novamente, e lá estavam do mesmo jeito, enroscadinhos entre si, pura pele, pura fragilidade, pulsação de mais de 120 bpm, um potencial de vida impressionante.


E eu aqui com meus botões, vou entendendo certas coisas. Uma delas é que aquela bagunça no meu vaso de planta nada mais era do que o garimpar de gravetos para, talvez aquele ninho, e a outra é que a vida é na maioria das vezes muito silenciosa. Me resta então, aprender muito com os nossos novos hóspedes.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A babação já começou








Desde que soube que vou ser avó, sim isto mesmo, vou entrar pro time daquelas que suprem toda a necessidade de afeto e rebeldia das criaturinhas que chegam a este mundo sem ter noção do que encontrarão pela frente.


Não é de hoje que ando pensando neste assunto, coisa que a pouco tempo atrás eu bloqueava ferozmente. Acho que ainda não estava preparada, talvez, as velhas tarefas de mãe estivessem ainda muito vivas. Não que eu não tivesse gostado da experiência materna, muito pelo contrário, mas a anulação de parte de mim foi intensa, traumática e eu precisava de um reparo, de uma recauchutagem, talvez, um virar de avesso pra ver o que ainda havia daquela pessoa pré-maternidade.



Liberdade, depois que a missão se dá por cumprida, é algo que nos recompensa e revigora, o frescor da juventude reaparece. O cenário antes pasteurizado, permeado por fazeres e não fazeres pertencentes à tarefa de educar os filhos, surge cheio possibilidades porque o novo olhar busca novos significados.


Então, cá estou eu, no prenúncio de uma nova pessoa, sempre na esperança de dias melhores. Os sintomas começam a surgir. Sono, muito sono, acho que é solidariedade com minha filha grávida que só encontra consolo na cama, muita cama. Se sento pra assistir TV, durmo, se vou ao cinema durmo, se o papo é chato, dá um soninho... Mas tudo isto é normal e acontece com toda a torcida da meia idade, que já se declarou a the best.


Levando em conta então este novo estado de espírito, sim, porque acho que ser avó é isto, andei buscando na fotografia o universo infantil. E neste mato sem cachorro, pode faltar cachorro, mas criança é presença obrigatória nos jovens casais que chegam às terras carajenses.


São muitas, mas muitas festas infantis. Todo fim de semana tem pelo menos uma, e os melhores locais para estes eventos são disputadíssimos. Com este mercado certo e crescente, surgem vários profissionais para atender a demanda. Tem gente pra decorar as festas, gente pra divertir as crianças enquanto os pais se regalam com os comes e bebes, gente que aluga brinquedos de parque de diversão, gente que faz docinhos, gente que faz bolo, que prepara os salgadinhos. A concorrência está na área e o mercado ganha cada vez mais novos adeptos e idéias.


Mas voltando as fotos, caminhava pela vila num sábado de manhã, quando soube que haveria o desfile do Sete de Setembro. Retornei à casa, agarrei a máquina e voltei pro centro onde aconteceria o evento. Liguei a câmera e percebi que meu foco eram as crianças. Relembrei meu tempo de mãe na porta da escola, participando de tudo, registrando tudo e, obviamente, me intrometendo em tudo. Mãe às vezes é muito chata. Esta lição estou levando pra minha avónidade onde pretendo cometer só outros bons tipos de erros, naturalmente.



As carinhas eram as mais diversas, mas a inocência... a marca registrada, talvez com data de validade, mas ainda muito fresca, recém fabricada.


Foram muitas fotos, e o prazer foi imenso.


Outro evento neste fim de semana, foi o aniversário da Allyne, que já não é mais criança nos seus vinte e tantos anos, mas se nega a entrar neste mundo adulto sem a alegria, o coração puro, a inocência da sua meninice. Foi uma festa pra criança nenhuma botar defeito. De palhaço a jujuba, de bolas a pirulito, de cama-elástica a cachorro quente, não faltou nem fantasia. Piratas, borboletas, cowboys, Fred e Vilmas, rastafaries, doutores e black powers. A diversão era ver quem chegava e como o quê. Crianças e adultos disputavam as atenções num clima de total descontração.


O djay animava ainda mais a festa e os dançantes entrecortados pelos raios lasers, eram libertados do stress da semana, voltando a ser crianças por uma noite.


E a câmera pendurada no pescoço, não perdia um só momento, o foco era difícil atrás dos meus óculos escuros de gringa, mas o toque no dispositivo disparador não se inibia. Pau na máquina e vamos ver o que vai dar. E foram belas as fotos porque mágica foi a festa.


Fazendo agora um balanço, acho que estou me preparando pra este novo universo, onde o real pouco importa, o bom é viver a fantasia, e imaginar que seremos eternizados nestas novas criaturinhas que acabam de começar a nascer. E isto é só o começo.