sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Eufemismos de sobrevivência

Enquanto nossa sabiá continua postada sobre os três ovinhos no vasinho da varanda, "outra sabiá" está tendo que construir seu ninho em Parauapebas. É bem verdade que não é para colocar seus ovos mas um monte de "tralha" que acumulou nos seus vinte e poucos anos (imagina quando chegar aos 54?). Panelas, roupas, livros, prateleiras, e mais panelas, roupas, livros, prateleiras.

Conversando outro dia com minha (praticamente) personal trainer enquanto malhava, soube que ela teria que se mudar. Isto exigiria um super esforço e ela não parecia nada motivada. E vamos combinar aqui que, se no mato sem cachorro tem seus encantos, o "Peba" tem muitos desencantos. A começar pelo esgoto correndo a céu aberto, o calor infernal, a poeira, o tráfico caótico, a falta de energia e água constante, e outras coisitas mais.

A cada dia ela me contava algo. E eu? Só malhando. Primeiro contou sobre o prazo compulsório de um mês para sair da casa que mora aqui no mato sem cachorro. Depois, a procura sofrida pelo apartamento novo no "Peba". Preços de aluguel pela hora da morte, pouquíssimas e péssimas opções. Depois a negociação finalizada com o imóvel. Ufa! E ultimamente sobre o processo de encaixotamento das coisas para a mudança. O seu astral não parecia dos melhores, fácil de entender.

Hoje, durante a malhação, eu perguntei sobre o apartamento e ela estranhou a pergunta.
-Não é um apartamento.
-Como assim?
-Ele não tem andares.
-Mas apartamento pode ser no térreo.
-Não... ele é uma kitinete e não um apartamento"
e torceu o nariz.

Percebi sua insatisfação com o acanhado espaço do seu novo ninho e imediatamente meu instinto de preservação da espécie pulou e gritou:
-Opa! Kitinete coisa nenhuma, você vai é morar num FLAT.

Os olhos dela brilharam e o sorriso se abriu. Levou alguns segundos para assimilar a nova realidade e de imediato me convidou para um café no FLAT. Em seguida se apressou para contar a colega de trabalho:
-Eu vou morar é num FLAT.

E seu ânimo, nitidamente, subiu muitos andares. E o que parecia fatalidade, parece que tá virando festa. Já até fomos convidadas para o OPENFLAT.

E assim a gente vai levando. Se no mato não tem cachorro, a gente caça com o CAT, digo FLAT.
(Esta foi infame!)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Visitas inesperadas





Sorry! It feels like years since I've posted something new in this blog. But I'm back.

Pois é... Tantas coisas acontecendo (obviamente fora deste mato sem cachorro), que minha motivação pra escrever ficou hibernando. Mas hoje, salvando no computador as postagens do blog da minha filha, vida-de-davi.blogspot.com, onde ela relata desde o nascimento do seu filho até os novos dentinhos do banguelinha, pensei que o Davi num futuro próximo, pudesse gostar muito de ler sobre suas primeiras estréias neste planeta. Fiquei pensando que se minha mãe tivesse escrito um blog como este (coisa totalmente impossível a 54 anos atrás), acho que eu entenderia um pouco mais da minha pessoa. Talvez nem precisaria de um Freud, ou daria a ele muito mais material pro meu diagnóstico e quem sabe uma possibilidade de cura.

Mas enfim, cá estou eu tentando calibrar meu eixo neste mundão verde, quando percebo que apesar do vagar das horas, a vida anda acontecendo depressa e surpreendentemente linda.

Chegamos da viagem a Londres/Paris e tudo parecia o mesmo, com exceção de uma movimentação diferente de pássaros na varanda da casa. Acomodamos as coisas dentro de casa e pela porta de tela da sala, vi que a construção de um ninho tinha sido iniciada no vasinho de planta. Logo deduzi que a sabiá, que anteriormente havia feito ninhos em diferentes partes da casa (porta do sótão e da varanda de trás), atraída talvez pela forma perfeita do vasinho e pela quietude da varanda (a casa ficou vazia por 15 dias), resolveu iniciar seu novo ninho. Acho que estes pássaros não reciclam, pois os outros ninhos nunca mais foram reutilizados. Um desperdício... ou quem sabe sabedoria, já que aqueles ninhos já estavam velhos, talvez cheios de bactérias, fundos, vírus... sei lá. A natureza é sábia.

Olhei bem para o serviço ainda inacabado, e percebi que ela trazia gravetos para finalizar a obra. Que trabalho! Pensando bem, um trabalhão pois ela trazia no bico, graveto por graveto, não tinha quem lhe ajudasse, muito menos um transporte motorizado pra facilitar as coisas. O trabalho era bical mesmo.

Todo dia espreito o dia a dia desta brava criaturinha, e evito fazer movimento brusco quando abro a porta da varanda. Ela já acabou o ninho e agora repousa silenciosa e solenemente sobre os ovos que postou. Isto mesmo, acabei de descobrir que aves também postam, claro que ovos e não textos.

Bom, mas a outra boa surpresa foi ver um pendão de Amarilis no outro vaso de planta. Há muito tempo eu esperava por isto mas sem muita esperança. Agora olho pra minha varanda com muita curiosidade e satisfação. Registro cada movimento dos meus hóspedes. Conheço mais ou menos o desenrolar das diárias, mas isto não impede que eu esteja atenta e vibrando com a intensidade de suas ações.

Três passarinhos sairão voando daqui a alguns dias e a Amarilis vai envelhecer, murchar e morrer. Wow! Acabo de descobrir duas metáforas juntas! E eu que comecei esta postagem sem saber como iria falar da transitoriedade da vida...