Faz uma semana que vi nosso geológo, sempre de plantão, embarcar de avião para a China, India e Suécia. Com sua malinha de mão parecia um menino no seu primeiro dia de aula: andar confiante, decidido e quase saltitante. Foi na frente como quem quer conquistar o mundo sozinho, aliás já conquistou no imaginário, só falta a concreta sensação do real.
Assistindo pela segunda vez o filme AVATAR, apesar da falta do 3D e da versão dublada agora, não pude disfarçar minha emoção. O cine-teatro, nesta sexta-feira, estava lotado e já não havia fila para a compra de ingressos. Saí de casa cinco minutos antes da sessão e cheguei faltando um minuto, indo a 30km p/h. Uma noite realmente isenta de qualquer estresse e sonorizada pela floresta.
Relutei em entrar quando soube que o filme era duplado. Se há de convir que só mesmo a falta do que fazer neste mato sem cachorro numa sexta-feira a noite, nos faz arriscar uma versão do Avatar desprovida de tecnologia e língua nativa. Outros, sem sombra de dúvida, optariam por afogar as mágoas em aguardente.
Pois bem, aceitei o desafio que me impus e arrisquei ter que sair no meio do filme por completa desmotivação. Paguei os dez reais do ingresso, comprei dois batons, peguei um copo d'água gelada e me posicionei ao fundo, na ponta, para eventual escape.
As luzes se apagaram, a platéia surpreendentemente estava silenciosa, os lugares praticamente todos ocupados e o barulho da pipoca mastigada não incomodava. O filme começa e logo de cara o estranhamento das vozes dos dubladores. Foi aí que o esforço pra não me deixar levar pelo sentimento de estar sendo enganada, começa.
Relaxa criatura, aproveita a bela história, o conteúdo, a mensagem. Afinal o 3D é um luxo e o inglês é apenas uma língua estrangeira. Tire proveito deste momento histórico de estar assistindo a um filme potencial ganhador do Oscar no meio da floresta Amazônica.
E assim, permaneci as duas horas e meia do filme: tomada pelas maravilhas de Pandora, tocada pela humanidade dos Avatars, embevecida pela criatividade e qualidade técnica do filme e reflexiva pela mensagem eco-spiritual-friendly de Avatar.
Qualquer semelhança com a atividade mineradora na Floresta Amazônica, é mera coincidência, mas não pude deixar de fazer esta conexão. Mas minha melhor conexão foi a do herói do filme, que por ter coração puro como uma criança e ser forte como um guerreiro, me lembrou nosso geólogo, heroicamente de plantão, que vai em frente no que acredita e no que dita seu coração.
Fim de noite, a volta pra casa se dá em quatro minutos e claro, sob a proteção das Grandes Árvores.
Carajás - Biodiversidade da Amazônia
Há 10 anos