domingo, 30 de maio de 2010

30 de maio




Regados a muita cerveja, mais uma vez nossos geólogos bebemoram seu dia. Foi no DEC - Docenorte Esporte Clube, ao som de uma banda de repertório bastante eclético que sacudiu a galera jovem, mais de noventa por cento, pra espanto dos cinquentenários, ou melhor, da blogueira aqui presente que continua naquela fase de olhar pro próprio umbigo e ver que lá se vão aqueles anos em que fazia parte deste frescor da boa idade.

Casais com seus filhotes, se arranjavam pelas mesas e de hora em hora espiavam a garotada que corria livre pelo espaço reservado à festa. Tudo azul... ou melhor, tudo amarelo, as cores da camisa que já prenuncia os próximos encontros na torcida pelo hexa Brasil.

O grupo é grande e parece começar a se afinar, num movimento ainda cerimonioso, de cuidados, de reservas, mas completamente absorvido pela contagiante alegria de se sentir parte. Parte da gangue geológica, da tribo carajense, da cia vale copper. A família parece que está formada e não descuida para que os laços se fortaleçam, na boa, sem discórdia, só alegria.

Enquanto alguns ainda tentam resolver problemas do dia (o telefone não fica desligado), outros se refrigeram no bate-papo nostálgico dos velhos tempos de Bahia e Níquel do Vermelho. São muitas histórias não escritas em papel mas gravadas a ouro, níquel e cobre na memória geológica dos que não sabem viver sem a dureza rochosa.

Foi um calmo e harmonioso evento, como calma e harmoniosa é a floresta que nos cerca. Protegidos? Não sabemos até quando. Prestigiados? O momento é bom. Esperançosos? Sempre. O futuro? Dizem que a Deus pertence, mas esta turma é coadjuvante da melhor espécie. O presente? O prazer de estarmos juntos neste dia do Geológo.






domingo, 23 de maio de 2010

Super radical








Não é preciso dizer que as coisas continuam em ritmo de floresta: aves cantando, cotias enterrando sementes nos jardins, araras sobrevoando as árvores, os quatis até que andam sumidos, mas quem sabe não sou eu quem está mais recolhida no conforto e quietude do lar doce lar?

Pois bem... Na contínua procura do que fazer por aqui, passei pelo DCE, Docenorte Esporte Clube, o único clube e por onde as pessoas transitam mais, vi um aviso sobre uma reunião para instrução de um rapel em cachoeira.

Não é preciso dizer que meus olhos remoeram, remoeram e não acreditaram. Como assim? Tem gente pensando em fazer algo além das fronteiras? Quem serão estes bravos heróis? Registrei a data e horário e lá estava eu, muito desconfiada da veracidade da informação, no local marcado pronta pra ser a primeira da lista na incursão pela floresta. Finalmente algo de novo parecia surgir no marasmo carajense.

Como de costume, o atraso das pessoas foi grande, mas pelo menos elas chegaram e com todo o equipamento à tira-colo: cordas, capacetes, argolas, luvas e uma apresentação em micro sobre o que seria o rapel na cachoeira que fica entre Parauapebas e Canaã dos Carajás. Era o corpo de bombeiros quem nos guiariam nesta empreitada! Eles conheciam a cachoeira, assim como outras, pois fazem treinamento nestes locais.

Então estávamos todos prontos! Depois da apresentação da equipe de soldados e capitão, dos equipamentos e de alguns lembretes sobre roupa adequada e alimentação, saímos da reunião com a sensação que iríamos participar de uma atividade sem dificuldades, de forma muito segura e tranquila. Coisa para qualquer um.

No domingo às 7h da manhã nos encontramos e seguimos em direção ao que seria nossa primeira experiência em rapel. Todos animados sem grandes preocupações, só alegria.

Pegamos estrada, 32 km até a entrada da fazenda que dava acesso à mata onde se encontrava a tal cachoeira. Uma família em casa de madeira, com crias de todo o tipo, além dos filhos, galinhas, porcos, vacas, cavalos, uma super fazenda com energia e água pura e abundante vinda da cachoeira. Um paraízo para aqueles que gostam de um matinho. Uma paisagem que me dizia a todo momento da matança florestal acontecida a não muito mais que duas décadas. Uma paisagem bela apesar de criminosa. Gados pastavam por todo lado e algumas árvores gigantescas, como a castanheira imponente no pé do morro, continuam nos lembrando do passado exuberante daquela região.

Mas deixando de lado o sentimentalismo, na veia já começava correr um sangue quente, ardente por uma aventura na mata densa restante com seu derrame de água que felizmente o homem preservou. Lá no alto nos aguardava o grande desafio mas continuávamos ingênuos, como meninos.

Começamos a trilha, o sol escaldante derretia nos olhos o protetor solar que enxarcamos no corpo. Ardia. O corpo molhado de suor não se importava muito, afinal mais um pouco e nos refrescaríamos nas águas correntes e descendentes da senhora cachoeira.

Chegamos então ao ponto, rápido e relativamente fácil. Todos muito animados e ávidos pela surpresa. Até que nos foi dito para descer um mato alto sem trilha, sem marca no chão. Como assim? E as cobras? Tudo podia aparecer no meio daquele mato.

Sabe aquelas coisas que ninguém diz mas que todo mundo pensa? Pois é, pensei: entramos numa robada. Mas lá estávamos nós e já tínhamos pagado pra ver.

Chegamos logo à cachoeira, e esquecemos por alguns minutos aqueles pensamentos num delicioso banho de massagem nas águas fortes daquela senhora. Pense numa hidromassagem, multiplique por 100 e depois divida toda a força dos jatos no seu corpo inteiro. Se conseguiu, já relaxou sua semana toda de stress. Se não conseguiu, então sugiro que vá até lá pra experimentar a terapia.

Comemos nosso lanche e até pra esquecer a próxima etapa, fizemos render aquele momento. Enquanto isto, nossos bombeiros, preparavam as cordas amarrando-as em árvores. Aprendi que são necessários dois pontos de sustentação de uma corda. Se um falhar, você tem o outro. Mas e se os dois falharem? Estamos fritos. E não me senti um pouco mais tranquila enquanto não olhei estes pontos de apoio e não tirei todas as dúvidas sobre riscos. Depois de uma certa idade a gente vai ficando muito desconfiado, medroso mesmo, quer saber de tudo, se certificar de tudo, entender de tudo. Na verdade o melhor é fechar os olhos e lembrar que um dia fomos jovens. Lembram-se da falta de juízo?

Eu faço uma aposta com quem quiser, de qualquer valor, como pela cabeça de todos ali passou a vontade de dar marcha ré e voltar para o aconchego da sala de televisão ou da rede na varanda com um bom livro na mão. Mas ninguém abriu a boca. O silencio tomou conta do lugar apesar da ruidosa senhora pronta pra jogar pra baixo quem quer que fosse desafiá-la.

Mas havia as cordas e as argolas e os suportes presos ao corpo para nos ajudar, thanks God!!! Havia também a vergonha de falar em casa que amarelamos e não encaramos o rapel. E havia ainda o vexame de dizer em público, eu desisto, pra mim não dá.

Assim, atônitos, calados por fora e gritando por dentro, aguardamos o primeiro voluntário. Se este chegasse lá embaixo vivo e inteiro, nossa insegurança, talvez diminuísse permitindo a candidatura para a próxima vítima.

Peguei a técnica do rapel com o bombeiro guia, foram 5 minutos, e com a corda já no pescoço, quero dizer nas mãos, e de costas para a monstra senhora, respirei fundo, ajustei os neurônios na busca desesperada pela razão, e tentei colocar em prática aqueles pequenos ensinamentos em cima da hora. Tarde demais, não podia rebobinar a fita, o filme já entrava em cena e a platéia em suspense total.

Tudo bem nos primeiros minutos. Eu conseguia concatenar todos os movimentos e ainda descia com segurança. É óbvio que não conseguia olhar pra nada além da corda na minha mão e dos meus inapropriados tenis. Não sei se coloco toda a culpa neles, mas o fato é que num certo momento deslizei, as pernas já não obedeciam aos meus comandos e por mais que tentasse, o limo das rochas fazia chacota do meu Nike. Tombei. A voz do guia dizia pra levantar, e levantei. Tombei de novo. E por umas três ou quatro vezes tombei e aquele pensamento marcha-ré tomou conta de mim. Nem pensar. Força nos braço, força nas pernas. Reaja, você não vai pagar este mico, não é? Então, de repente, meus quadrícepes reagiram e me fizeram encaixar os pés no lugar certo e na hora certa, me restabelecendo o equilíbrio. Ufa! Estava salva. Pelo menos por enquanto, já que faltava ainda mais de 80% de adrenalina pura.

O guia pediu que eu olhasse pra baixo pra curtir a visão bela da cachoeira. Tá maluco? Ver o quê, o meu túmulo aberto, pronto pra me receber? Me neguei peremptoriamente, não havia sombra de dúvida de que esta era uma visão proibida naquele momento.
Me concentrei novamente para poder terminar a missão impossível aos meus olhos. Fiz os ajustes cerebrais, respirei fundo novamente e encarei a virada da rocha, o último paredão, reto, cheio de entranhas que por isto mesmo me ajudaram a firmar os tenis e descer no automático.

Desliguei o automático quando vi alguns arco-iris me cercando e a água batendo no meu rosto me encheram de uma alegria inexplicável. A poucos segundos eu estava cega e agora via tudo colorido, brilhante, refrescante, deliciosamente relaxante. Como pode acontecer? Sei lá, mas o fato é que eu estava viva, e mais viva do que nunca. Chegara ao fim do rapel. Chegara ao fim do túnel e lá havia muita luz.

Depois disso fui pegar minha máquina, não podeiria deixar de registrar os demais membros do grupo, agora vistos debaixo, outra perspectiva, outra realidade.

Cada um que terminava sua façanha vinha contar aliviado o sufoco e celebrar com o grupo a vitória. Alguns planejavam voltar um dia, obviamente depois de esquecer um pouco o episódio, outros já estavam satisfeitos com a experiência que renderia papo pra uma semana.

Voltamos sem maiores dificuldades para a fazenda onde nossos carros estavam estacionados. Parecia uma eternidade desde aquela manhã inocente, despretenciosa, bulcólica, que de uma hora pra outra radicalizou total.

Voltamos e sem maiores dificuldades para o nosso porto seguro, nosso mato sem cachorro. Acho que vou apreciar melhor agora as aves cantando, as cotias enterrando sementes nos jardins, as araras sobrevoando as árvores, os quatis e o conforto e quietude do lar doce lar.

sábado, 15 de maio de 2010

Saindo da inércia




Depois de quase dois meses sem dar o ar da graça, estou de volta. Às vezes dá uma preguiça escrever... não sei o que é, talvez não esteja precisando. Acho que escrevemos mais por necessidade. E no meu caso, este espaço em branco e preto serviu pra aliviar tensões, organizar sentimentos e encarar a realidade.

Hoje, o mato sem cachorro, já não dói tanto assim, pelo contrário, já se mostra como um refúgio, um jeito de isolar as ansiedades, recuperar um pouco do juízo, desacelerar o coração e o pensamento.

Hoje, por exemplo, dois quero-queros resolveram passar o dia no nosso jardim. Andaram pela grama, deitaram ao sol, ciscaram não sei o que no verde molhado e no fim da tarde trocaram uma prosa alta que chamou nossa atenção.

Quer coisa melhor do que observar estas criaturas voadoras que mais parecem gostar do solo e agora de gente também? Suas longas pernas, seu andar elegante e cauteloso, sua leveza e calmaria, seu piar forte e estridente, como não fazer a gente relaxar nesta nova distração birdwatching carajense!?

À noite eles se foram. Atravessei a rua com o propósito de ver as estrelas. É que só consigo vê-las depois da luz do poste que ofusca. E completando um dia de paz, lá estava a via lactea com a constelação quase completa e inegavelmente brilhante.

Hoje foi um dia de calmaria mas não aquela de que venho reclamando, muito pelo contrário, um dia de entrega e puro relaxamento. Sintonia total com o universo carajense.
Será que vou ter que mudar o nome do blog?