domingo, 22 de janeiro de 2012

Sob risco











Ando meio em falta com meu blog, ou será comigo mesma? Às vezes dá uma preguiça de escrever... Mas nestes últimos dias não posso dizer que tudo anda no mesmo: a mesma chuva, as mesmas pessoas, as mesmas cotias enterrando sementes, as diferentes araras berrando no céu, a rotina de sempre, e uma velada expectativa de que a qualquer momento vou deparar com uma onça pelo caminho.

Se ainda não falei disto é porque estava apurando os fatos, mas depois que uma moça foi atacada por uma onça num dos projetos da mineração, o assunto passou a ser constante nas conversas de bar, no mercado, no salão de beleza e, principalmente entre os caminhantes. Nós, costumeiros caminhantes, estamos deixando de lado aquele andar despreocupado e contemplativo pra zigue-zaguear entre as ruas, na tentativa de cumprir a "uma hora" necessária para a queima das calorias adquiridas na véspera. Aquele caminhar solitário passou a ser um risco e se for pela avenida que delimita este mato sem cachorro o risco aumenta.

Talvez esteja exagerando mas não quero arriscar ter o rosto deformado por uma "patinha" ou por uns caninos afiados, obviamente se sobreviver ao felino voraz que já deve estar sabendo que carne humana é das boas, além de farta nestas redondezas. Portanto, recolho-me a minha insignificância e vou arriscar a vida em outras bandas.

Se não falei, digo agora da nossa tentativa de formar um grupo de fotografia. Começamos a algum tempo atrás e apesar do grupo não ser um exemplo de motivação e organização, estamos clicando persistentemente. Neste sábado, apesar de alguns acharem arriscado, marcamos uma expedição fotográfica ao mercado de Parauapebas. Me parecia um local interessante. Colorido, muitas formas, pessoas de diversas procedências, um lugar cheio de cheiros e sabores, ideal para o despertar dos sentidos. "Mas é arriscado" disseram uns", "É melhor irmos em grupo" disseram outros. Não entendi muito o medo, mas às nove horas do sábado descia a serra para esta "arriscada expedição" sozinha. Ninguém mais compareceu ao combinado.

Só tenho a declarar que me diverti muito, fui um pinto no lixo. Cisquei todos os cantos, e me senti totalmente segura, mesmo com tantas perguntas e curiosidades dos feirantes. "É pra televisão, moça?", "Posso tirar uma foto com meu filho?", "Cê é estrangeira?", "Quero sair na foto não", "É pro jornal, né?". E assim fui sendo o centro das atenções. Como poderia ser atacada, roubada, molestada, assassinada, etc, etc, etc. Que mal fariam estas pessoas? Claro, malandros espreitam e aguardam a oportunidade, mas eu estava em missão de paz e senti que ela reinava ali.

Conclusão? Os vários clics me renderam alegria, energia renovada e até algumas boas fotos. E como diriam meus antepassados, "quem arrisca não petisca", e o que eu tive foi um verdadeiro banquete.

Mas continuando falando sobre os últimos acontecimentos, o de hoje foi sem dúvida o de menor risco. Agarrada numa corda, desci uma barreira rochosa de vinte metros de altura em plena canga amazônica (local de maior concentração do minério de ferro do planeta). Parece perigoso, arriscado, uma insanidade? Pois bem, foi onde me senti mais segura. Nem que eu quisesse conseguiria me desgarrar daquela corda amarrada a uma "cadeirinha" de tiras que sustentava meu corpo enquanto a gravidade puxava com toda a força pra baixo. Foi só um rapel de domingo.

A princípio muito adrenalina, mas num rápido balanço entre custo e benefício, não duvidei de que teria "a lifetime experience". E me joguei com a confiança de quem sabe o que está fazendo e de quem não tem nada a perder, a não ser a vida. Só valeu!

Agora, sentada aqui na tentativa de entender sobre os riscos da vida, percebo que a relatividade continua norteando minha vida e tornando-a muito mais rica.

E que venham novos riscos!