segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Primeira vez


Já se passaram 9 meses, e parece que um sentimento novo está nascendo. O velho ‘home sweet home’ começa a dar sinais, as paredes já começam a falar com você, os lugares visitados diariamente já são familiares, as pessoas já não são mais os totais desconhecidos e o mato sem cachorro está povoado de outros animais, não tão dóceis quanto os cães mas nem por isto menos apreciados.

Um olhar embaçado começa acomadar sua visão fazendo com que, o que antes era inusitado e surpreendente, seja agora algo injetado e fluidificado nas suas veias, numa leve dormência. Isto parece bom à primeira vista, mas a quietação é perigosa quando se vive num mato sem cachorro.
Mas então você reage e entra naquele estado curioso de procurar o novo, o que vai lhe tirar do chão novamente e fazer caminhar diferente; o que vai lhe exigir paradas forçadas para não perder o que cruzou no caminho e que deu taquicardia. E aí, então, você mostra que está pronto, e num ato impulsivo e imediato, puxa a arma e atira.

Foi outro dia, pedalando pela Avenida Carajás, na expectativa de encontrar a onça pintada que um amigo nosso havia visto a menos de dez metros de distância, e que me fez pensar no quão expostos estamos, apesar de todo o rigor e obsessão da segurança local, mas que nem por isto me fez temer um possível encontro. Foi outro dia, pedalando pela Avenida Carajás que me deparei com algo preto de quatro patas peludas atravessando calmamente como se fosse o dono da avenida.

Se você está pensando em encontrar uma onça no caminho, qualquer coisa parecida com ela, será a própria, pintada ou não, ela será sua onça. Temos que aceitar que nossa realidade é feita de imaginação e que por isto podemos reinventá-la a cada dia, mas também podemos nos decepcionar a cada dia.

Foi o que aconteceu. Depois de tentar frear o coração que bateu forte para arrebentar o peito, saquei minha câmera fotográfica e meio trêmula ainda, atirei uma foto no guariba. Preto, preto, dono de si, olhou para os lados me descobrindo e como quem sabe que passam carros por ali, depois olhou para frente e, decidido, logo em seguida subiu numa árvore com a destreza primata.

Fui ao seu encalço e ainda armada, saquei novamente uma foto dele entre as folhas, mas ele não me deu bola e olhava em outra direção procurando talvez uma companhia.

No fim da tarde ou pela manhã é muito comum ouvirmos os gritos, grunhidos, conversações, ou lá o que seja aquilo que os guaribas fazem do alto das árvores. A primeira vez que ouvi foi quando percebi que a macacada parece reinar no pedaço e que do alto de suas torres nos observam, talvez fazendo pouco caso de nós: “Sobre duas pernas? Que andar sem graça destes ex-primatas!”.

Depois disso tive outras experiências pedalando pelo núcleo, mas nenhuma delas tão excitante, e por isto continuo limpando minhas lentes para um próximo encontro, quem sabe a onça apareça em 2010!? Quem sabe minha imaginação continue me reinventando por aqui? Quem sabe eu continue vendo coisas pela primeira vez? Quem sabe ...

domingo, 6 de dezembro de 2009

E no meio do caminho ...

Testemunhos de rocha organizados em caixas de madeira

Vistas de uma das cavas da antiga mina de Igarapé-Bahia



Magnetita presa ao ímã de uma caneta

Testemunho de rocha

Há convites irrecusáveis, e um deles veio de repente e imediatamente eu disse SIM.
Sábado de manhã bem cedo saímos de casa depois de acordados pelo turbilhão de água que caía dos céus, nos lembrando mais uma vez que a estação chuvosa bate à porta continuamente e com a força de quem quer derrubá-la. Acho que já contei que neste mato sem cachorro chove canivete, foice, enxada, ancinho, marreta, tudo de uma vez só. Chove a cântaros (wow, caiu muito bem esta expressão)!!!

Nos vestimos, tomamos café e aguardamos a chegada de nosso guia. O principal propósito era olhar alguns testemunhos de rocha e tornar crível que a 100 km de Carajás, numa antiga mina de ouro desativada, as chances de uma nova mina de cobre não eram nem um pouco remotas. Entre dois geólogos, amigos de longa data, dentro de uma super caminhonete recheada de EPI (equipamento de proteção individual), minha pessoa não parava de levantar questões ao longo da estrada que corta as grandes cavas da mina de ferro e rasga a densa floresta amazônica.

Como não aproveitar dos dois experts in rocha, guias perfeitos nesta incursão nas entranhas da Terra?

O tempo estava nublado e a dúvida sobre se era apenas neblina ou fumaça das queimadas ainda comuns nesta região, pairava no ar. Os buracos na pista vermelha (presença marcante do ferro), faziam nossos esqueletos pularem no limite de nossos cintos de segurança. Atentos esperávamos que alguma onça preta, parda ou pintada aparecesse para nos presentear os olhos. Mas não descansávamos os ouvidos daquela conversa sobre depósitos, minas, viabilidade, smelters, investimento, projetos, etc, etc, etc.

O verde nos acompanhava sem descanço, floresta virgem de vez enquanto mostrava-se muito presente na forma de árvore caída transversalmente na estrada. Felizmente alguém já haviam aberto passagem possibilitando acesso fácil. Mas percebi que há sempre surpresas nesta região inóspita, onde o geólogo insiste em adentrar e romper a linha tênue que nos separa da nossa natureza primitiva.

Finalmente chegamos a antiga mina de Igarapé-Bahia (ouro), hoje projeto do Alemão (cobre) e pra minha surpresa, lá estava, como nos filmes de faroeste americano, não uma cidade fantasma, mas uma mina fantasma. Pude sentir os fantasmas rondando, operando máquinas, trabalhando nos escritórios, detonando cavas, subindo e descendo rampas em seus caminhões gigantes, num ininterrupto movimento típico da atividade mineradora.

Imaginei que os fantasmas, ainda vivos, e agora perambulando por minas em atividade, se voltassem a Igarapé-Bahia, iriam rewind a fita de suas vidas e quem sabe se emocionar com o passado. Passado ainda muito presente e vivo pois a natureza deu um jeito de preencher as grandes cavas com água verde, profunda, virgem, formando um cânion com encostas serrilhadas, marca indubitável de que um dia uma mina esteve aqui. Um espetáculo criado pelo homem em parceria com a natureza!

Começamos nossa viagem de volta e eu já considerava meu dia ganho, quando no meio do caminho tinha uma ... E esta é uma postagem a parte, mas que se dará na forma de vídeo, pois a câmera saltou de minhas mãos e registrou o feito de nossos geólogos. http://www.youtube.com/watch?v=pGRYALhv2ts

Mais que depressa eles removeram outro obstáculo nesta aventura por um simples olhar de testemunho de 400 metros de profundidade, cheio de calcopirita, bornita, magnetita, e outras itas mais que não me lembro o nome. Me lembro sim da sua beleza, o que talvez seja o mínimo diante da infindável busca geológica neste nosso PLANETA AZUL, verde, vermelho, preto, amarelo, branco ...

Voltamos ainda a tempo de preencher o único vazio restante, nosso estômago que agora dava sinal de vida.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

E ele vem que vem

Novembro está indo embora e quem me diz são as muitas luzes natalinas espalhadas por Carajás.

Quem pensava que em algumas casas não morava ninguém ou que a monótona rotina anestesiava os corações... você está muito enganada, viu? Ontem e hoje conheci um pouco das almas reinantes neste mato sem cachorro. Vi que o brilho dos olhares com quem não cruzei estão à mostra nas mais diversas fontes de luz que cobrem jardins, árvores, varandas e até telhados.

Nunca pensei que fosse ver em Carajás um presépio na porta de uma casa, ou um Papai Noel gigante convidando o curioso a fazer o seu pedido de Natal, ou uma árvore salpicada de bolas coloridas na frente da casa do Incrível Hulk. Sim, já explico, esta é a casa que tem seu jardim iluminado de verde durante todo o ano. O povo como gosta de uma piada...

Mas voltando às luzes, está tudo muito diferente por aqui, as casas perderam seu aspecto pasteurizado e ganharam vida própria, personalidade, uma importância de quem não tem problema com auto-estima.

Continuo surpresa, acho que menosprezei a criatividade e ousadia dos residentes e a cada piscar de luzes, vejo um sinal de que os corações por aqui são mais pulsantes do que eu supunha, basta ter um motivo e as demonstrações vem ao vivo, a cores e sem economia.

Estou feliz por ver que o Natal por aqui vai ser marcante, e por isto vou pedir ao Papai Noel que cuide bem do Tucuruí porque o Itaipu pisou na bola e não merece presente de Natal. Vou pedir também que muitas luzes nos iluminem neste dezembro que parece apressado pra virar sua página neste fim de calendário.

Ah! Peço perdão pela falta de foto, mas amanhã sairei de máquina em punho pra registrar o dito.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Aterrizagem forçada


Aqui estou eu novamente diante desta folha em branco, melhor dizendo em preto, que pode até não passar em branco, e isto me lembra que alguns leitores podem estar pensando que debandei de vez deste mato sem cachorro. Nana nina não, sou osso duro de roer, e apesar de uma aterrizagem quase impossível da TRIP (nossa outra opção de escape), o avião pousou sob olhares nervosos e mãos trêmulas.



Chegamos de uma viagem maravilhosa entre França e Grécia, tudo praticamente perfeito não fosse a gripe que o nosso querido geólogo pegou depois de um mergulho nas águas do Mar Egeu, em meio a caldeira do vulção de Santorini, num hot spring cristalino mas nem tão hot assim. Para os leigos em conhecimentos vulcânicos, (veja só, já até me considero uma especialista) hot springs são fontes de água quente próximas a vulcões.



Pois bem, voltando ao assunto gripe, terminamos nossa viagem em meio a tosses e espirros, mas nem por isto sem emoção. Fechamos o circuito em Paris, no Louvre com Monaliza, e aproveitando para por as "mãos na Liza", nossa querida filha que chegara com seu marido.



Mas isto me lembra a bobagem que eu fiz apagando nossas fotos do dia. Ainda não descobri meu problema, mas de repente, mais que repente, eu dou um sumiço em fotos super, hiper, tremendamente importantes. Talvez Freud nem explique. Já me matei várias vezes mas continuo errando. Sem solução, vou levando a vida, afinal, são apenas fotos, e como diz minha outra filha Barbara, "mãe pára de tirar tanta foto, deixe algum momento pra memória". Memória... que memória? Ela acha que eu tenho a idade dela!



Eu estava falando sobre a aterrizagem forçada, e não me entendam mal, eu até queria chegar em casa. Foi o piloto mesmo que quase desiste de pousar em Carajás. Uma grossa camada de nuvens, nesta época muito comum pois daqui a pouco começa inverno, cobria a floresta e não dava pra ver nada lá embaixo.



Normalmente entre Araguaina e Carajás leva-se 35 minutos de voo, mas desta vez foram mais de uma hora. O avião rodou não sei quantas vezes nas imediações e quando o piloto avisou que iria pousar, todos olharam para os lados se perguntando "mas como, pelo amor de Deus!?".



E foi assim que cheguei. Nosso geólogo quase curado da gripe, estava num belo horizonte, felizmente, melhor que apenas um dos cônjuges morresse. Vira esta boca pra lá!



Bom, finalizando, se quiserem entender esta aterrizagem forçada como uma metáfora, problema de vocês. Eu, apesar dos quinze dias europeus, senti muita alegria ao pousar no meu Rio e depois, neste mato denso, viva o piloto!

domingo, 4 de outubro de 2009

Fenômenos


Depois desta viagem olímpica, aterrizo nas minhas incursões pelo universo carajense e noto que as coisas andam acontecendo por aqui, apesar do tempo ser geológico. E pra quem tem afinidade com estes papos geológicos, ou tem bem perto um geológo que respira rocha e cospe sedimentos, sabe que tudo nesta Terra demora...


Tivemos a idéia de passar um filme sobre a formação da terra que copiamos do History Channel, "How was the Earth made?". Desde que cheguei, tento mobilizar os-que-procuram-o-que-fazer-em-carajás para a criação de um movimento novo. Claro que não seria um movimento ao bar, porque este já existe, e nunca precisou de um idealizador. Como adoro debates, e esta é uma palavra que causa risos entre meus filhos, porque eles não conheceram os anos setenta, decidi iniciar o movimento de cinema regado a conversa (soa mais contemporâneo, certo?).


As duas primeiras sessões não renderam muitos adeptos mas a estratégia da última sexta deu certo e encheu nossa sala de trilobitas, estromatólitos e outras criaturas que abriram nossos olhos à pequenez de nossa existência e às pretensões prognósticas sobre o aquecimento global. As afirmações dos senhores geólogos presentes batiam na mesma tecla da inevitável nova era na formação do planeta azul. Mas isto é papo pra um blog inteiro e com certeza não é pro meu bico.


Pois bem, conseguimos reunir 21 pessoas, entre geólogos e simpatizantes por razões maritais. Foi algo a ser considerado como o primeiro evento de peso no movimento citado acima. O 'debate', agora com outro formato, surgiu com força nos pequenos grupos e deixou todos com um sentimento de quero mais.


E pra quem acha que aqui não tem nada pra fazer (quem será?), ficará surpreso com o grande evento de ontem, sábado à noite, que fizemos questão de comparecer.
O Fempa, Festival de Música de Parauapebas, me lembrou os grandes festivais de música nacional: um palco muito bem produzido, um som de qualidade, uma organização estilo sul maravilha, e um locutor impecável, que só me deixou confusa com as palavras ditas ao anunciar Nilson Chaves: "cantor que já esteve ao lado de grandes cantores "de nome e renome".


Segundo o geológo de plantão ao meu lado, também assessor de assuntos aleatórios, talvez o locutor estivesse se referindo a Jorge Ben, agora Jorge Ben Jor, ou quem sabe a Sandra Sá, nas paradas agora como Sandra de Sá, e assim por diante. Agora entendi.


Mas voltando aos grandes eventos do fim de semana, fechei a noite com a lua, que me fez descobrir uma cabeleireira de mão cheia, que preparou meu cabelo pras novas eras geológicas que a velha lua, redondinha, anunciava no céu carajense.


Então, como disse meu amigo de renome intergaláxico Arnaldo Antunes, "fé em Deus e pé na taba".







sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Chegou a nossa vez!!!

Minha conexão com o mundo foi restabelecida hoje e não poderia ter sido em sintonia melhor. Desde cedo acompanho a transmissão da escolha da cidade a sediar as Olimpíadas de 2016 e como nas grandes decisões nacionais, os olhos e o coração ficaram colados na tela global que parecia pulsar quente como as minhas veias.

A longa espera não diminuiram meus batimentos cardíacos, mas muito pelo contrário, fizeram o coração ir a 180 por minuto já celebrando o que no fundo todos sabíamos: nós merecemos esta chance.

Ouvi todos os discursos e vi todos os choros de alegria depois da divulgação do resultado, e mesmo a tantos quilômetros de distância e tão escondida do mundo, pude compartilhar a mesma emoção dos que acreditam que tudo é possível sob os efeitos da união de corações e corações afinados com o melhoramento da raça humana.

A escolha do Brasil como sede dos jogos Olímpicos de 2016 foi uma grande demonstração de sensibilidade do Comitê Olímpico. Afinal, o planeta precisa das novas potências emergentes e estas, não negam fogo se convocadas. A China esteve presente em 2008 e mostrou como é que se faz uma Olimpíada de verdade. E o Brasil, na figura maravilhosa de seu Rio de Janeiro, não vai fazer diferente. Finalmente os governos se uniram e parecem falar a mesma língua. Não tem como dar errado, falem o que quiser.

Estou vibrando até agora e orgulhosa de fazer parte desta família muitas vezes caótica e negligente, mas que na hora certa é capaz de mostrar ao mundo que o brasileiro é a bola da vez em 2016.

O que estaremos fazendo em 2016 não faço a menor idéia mas onde estarei, esta é uma certeza: Rio, minha cidade mais olímpica de todas.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

É a última que morre

Como faço todos os dias pela manhã, tarde ou noite, e aí vai depender da minha disposição, inspiração e o tamanho do saco cheio, saio pra caminhar pelo núcleo de Carajás. Tenho usado de vários recursos para não só aliviar a hora caminhada mas para dar um plus a ela. Sabe como é, ainda não me livrei desta mania de aproveitar o tempo fazendo mais de uma coisa ao mesmo tempo. Como já notei que é patológico e que não tem cura, então pelo menos faço com a determinação dos teimosos.

Mas como ia dizendo, e esta é outra mania, de desviar do assunto, trilhar por atalhos e talvez chegar a lugar nenhum, ou quem sabe chegar a todos os lugares. Aí vai depender dos meus pacientes leitores, que aliás, quero agradecer o incentivo pois, apesar de tudo, continuam gastando seu precioso tempo lendo meu blog.

Voltando ao trilho de novo, quero dizer, a minha caminhada diária, mas nem por isto rotineira no sentido mais chato da palavra, para dizer que, meus recursos para torná-la um delicioso dever a cumprir, variam desde arquivos de música ou English listenings no walkman até a compras no mercado. Vario também os locais por onde ando, posso fazer o núcleo ficar circular, quadrado ou ziguezagueado, fazendo então a performance refletir um pouco o estado da minha cabeça.

Dependendo de por onde ando, encontro os mais variados seres: vegetais, animais, minerais e até humanos. Outro dia topei com um pedaço de minério de ferro no caminho e sei que Drummond, mais do que ninguém, entenderia muito bem esta minha metáfora.

Quanto aos seres animais, ando meio desapontada pois ainda não cruzei com nenhuma onça ou cobra de respeito, apesar de ouvir muitos boatos de que felinos pretos andam se escondendo debaixo de carros. Os quatis não contam mais, já são da família; quanto às cotias, nem se fala, estão mais pop do que o Lula.

Quanto aos humanos, estes se encontram dentro de suas tocas, na maioria das vezes, mas se a sorte estiver do seu lado, vai vê-los molhando jardim, lavando carro, empurrando carrinho de bebê, brincando na rua, fazendo mercado, indo ao cinema (média de 4 pessoas por sessão, exagerando um pouco), andando de bicicleta e caminhando.

Finalmente cheguei onde queria chegar, ufa! Estava caminhando hoje, quando descobri uma porção de verde cercada de verde por todos os lados. Dão a isto o nome de horta comunitária de Carajás. Olha só que coisa mais maravilhosa!!! Já havia lido no informativo do clube, que havia esta horta, mas só hoje minha mente ziguezague me conduziu até lá.

Imaginem só que a horta é toda orgânica e apenas duas mulheres se dedicam a ela, uma de manhã e a outra de tarde. Como tudo aqui, a horta tem hora pra abrir e pra fechar, e nela encontra-se desde salsa e cebolinha, até chicória e beterraba. Só depois que meus olhos encontraram com os azuis da Marlene, é que percebi que aquele ser agachado, de calça jeans, bota e chapéu remexendo a terra, era um ser feminino.

Conversamos um pouco e vi que seu real interesse é fazer o que gosta e pra isto não mede os palmos de terra que tem pra trabalhar todos os dias debaixo do sol de 42 graus de Carajás. O que ganham, ela e sua sócia, definitivamente não é medido em reais, porque não passam de centavos o que cobram pelos pequenos molhos de verdura. Acho que o que ganham na verdade, é o mesmo que ando a procura: sentido pra vida.

Parece dramático, mas este é meu tópico da vez e minhas reflexões atuais giram em torno deste mesmo tema. Mas como naquela horta onde Marlene consegue produzir seu verde, cá vou eu tentando produzir esperança pra atenuar a força avassaladora deste momento.

No meio do caminho tinha uma horta e era VERDE.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Tudo pode acontecer

Sentei pra começar a escrever quando ouvi um barulho estranho lá fora. O quarto que uso como escritório e sala de aula fica de frente para a rua, em seguida tem um gramado que termina na floresta. Ou seja, ouço os mais diversos sons. Agora, por exemplo, estou ouvindo o som das cigarras (é fim de tarde) entremeado por cantos de pássaros. Aliás, pássaros aqui é o que não falta.

Bom, mas eu estava falando do som estranho. Pensei em pessoas cantando ao longe, me lembrei até dos rapazes e moças do IME (Instituto Militar de Engenharia) que fazem sua educação física pelas Praias Vermelha e de Botafogo, e que sempre chamam à atenção da vizinhança pela ordem, disciplina e até beleza das músicas ritimadas que cantam, talvez pra ajudar no enfadonho exercício. Imagine estes meninos muito bem aplicados e versados nos números correndo pelas ruas de Botafogo. Só cantando mesmo pra espantar os males.

Volto, então, ao som estranho. Sai da casa e fui até a rua, mas não pude reconhecê-lo. Pensei nos macacos que volta e meia começam a cantar do nada. Como agora por exemplo, estão a berrar e para dar uma idéia de como é o som, pense no barulho daquelas conchas grandes do mar que quando colocamos o ouvido, temos uma sensação de oco e ao mesmo tempo de barulho de mar. Mal comparando, acho que se multiplicarmos este som por infinitas vezes, teremos o som destes guaribas no fim de tarde.

Mas voltando de novo ao som estranho, lamento disapontar, mas não sei o que era. Quem sabe eram índios colhendo castanhas, que é atividade frequente na mata, ou quem sabe estavam em algum dos rituais indígenas.

Acho que estou viajando demais nestes sons mas o fato é que tudo e nada acontece por aqui. É um paradoxo totalmente pertinente. Principalmente se pensar que carona pra índio é algo que não damos todo dia. Ontem aconteceu do Beto estar subindo a serra de Carajás, quando na portaria lhe pediram pra dar carona a um índio que iria pegar sua índia no hospital. Ela havia sido operada de vesícula no Hospital Yutaka Takeda, no núcleo de Carajás.

Beto chegou em casa me contando logo. Estranhei, pois normalmente chega calado e é preciso algum tempo até que, sob o efeito da enxurrada de perguntas que faço, solte algumas palavras. Mas estava indiginado pelo machismo do índio. Me disse, então, que depois de alguma prosa com o indígena, ele falou que a mulher tinha tirado umas pedras da vesícula.

Nada demais, até ele dizer que foi tudo por culpa da índia que não limpa o arroz direito e aí, as pedras vão pro corpo dela.

Mas como eu ia dizendo, tudo por aqui pode acontecer. E como sabedoria indígena é pra se levar em conta, por favor catem muito bem as pedrinhas que encontrarem no arroz, e na dúvida, as que encontrarem no feijão também. Depois enterrem as pedrinhas. Quem sabe não nasce uma plantinha cujo chá exploda os miolos deste macho indígena.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Inércia

Não sei ao certo se fiquei todo este tempo sem escrever (se passam mais de trinta dias sem uma palavra blogada), por conta da minha lenta, persistente e sobrevivente adaptação a estes recantos amazônicos, ou se um fato muito maior que eu e tudo que me cerca aponta-se como o mais emergente de nossa existência.

Meu irmão tem câncer de pâncreas diagnosticado a menos de dois meses. Como diria o paraense, "pense num cara saudável", é o meu irmão, ou melhor era. Alguém que você apostaria que morreria saudável aos 90 anos, caminhando diariamente pela praia como um bom "rato de praia" que é, comendo "mato" como ele mesmo define sua combate-triglicerídeos refeição e dando aulas de inglês aos alunos que agora percebemos como presentes amigos.

Um soco no estômago nos pegou distraídos, nos nocauteou e ainda estamos grogues tentando nos reerguer. Estamos tocando a vida da maneira mais positiva possível, mas volta e meia a sensação dolorosa de que a qualquer momento podemos perder nosso irmão nos derruba de novo. É uma luta que, apesar de querermos pensar diferente, as evidências e nossa racionalidade nos leva a crer que ela nasceu perdida.

Mas então, vem a questão: perdida pra quem? Quem sai perdendo neste jogo? Nós que continuaremos buscando sentido pras nossas existências ou pra ele que diante da possibilidade da não-existência passa a ganhar o real sentido?

E aí outras questões se apresentam: o que realmente tem valor em nossas vidas?

Sou testemunha de que meu irmão é pessoa muito querida. Estava no hospital quando presenciei suas visitas: parentes, que já são esperados e que fazem muito bem trazendo conforto e boa energia, e amigos, que compareceram e telefonaram durante todo o mês de internação. Foram manifestações de amizade que nos impressionaram. Meu irmão com seu jeito prático e direto nos deixou surpresos com sua generosidade e carinho nas relações. Fato que talvez não tenhamos percebido devido a intimidade, às vezes danosa, que cerca as relações familiares.

E ai vem outra questão: no que nos transformamos, quem somos nós depois de 45 anos de vida?Parece pouco se consideramos a expectativa de vida atual, mas foram muitos anos desde que colocamos o pé no chão e passamos a andar com nossas próprias pernas. Tivemos que escolher caminhos, relações, posicionamentos, e agora, a mais difícil das escolhas, como encarar o fato de que um dia vamos embora.

Todo nosso apego a vida deve fazer algum sentido, e acho que realmente faz nestas horas, quando podemos e queremos exercitar toda a nossa humanidade. Talvez ela tenha sido exercitada de forma capengante na luta pela sobrevivência. Pensando bem, acho que sempre fomos náufragos celebrando a praia alcançada. Mas agora, diante da falta de porto seguro, o que fazemos de nós.

Estamos diante da maior das inércias e acho que ela é quem nos salvará. Que a Mão Maior nos conduza ao melhor de nós mesmos e nos faça enxergar algum sentido nisto tudo.

Por ora, estou aqui neste mato sem cachorro, mas pelo menos, voltando a blogar.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Condensado



Mais de uma semana se passou e assunto não veio, melhor dizendo, veio mas a inércia foi maior e os dedinhos digitantes estão entrando no ritmo devagar-quase-parando da região. Tento reagir mas a coisa é forte e a rede fica ali me olhando e pedindo um corpo mole e um balanço maneiro. É claro que sem um bom livro não dá pra encarar a indígena e por isto tenho lido como nunca. Pelo menos vou sair mais letrada deste mato.

Bom, vamos dar uma atualizada pra não parecer que estou sem fazer nada por aqui. Estou andando, andando muito e assim outro dia esbarrei com uma legião de Quatis com seus rabos levantados que ficou difícil de identificá-los à distância, mas chegando mais perto pude ver toda a gangue cavando o chão pra pegar umas sementes. Algumas pessoas que passavam perto pegaram seus celulares pra registrar a cena e uma mãe desacelerou o carro para seus filhos apreciassem um simba safari inesperado.

Só aqui mesmo se tem estas surpresas. E outro dia, um casal que encontramos no pub e que já mora em Carajás há 3 anos, disse que o oftamologista, examinando os olhos de seu filho, mostrou um cachorro e perguntou pro menino o que ele via. Ele prontamente disse 'cotia, claro!'.
Pra quem ainda não sabe o verdadeiro significado do nome do blog, acho que chegou a hora de dizer: em Carajás não se pode ter cachorros (enganei todo mundo, hein?) Nossos pets são cotias.

Outra coisa muito interessante que fiz por aqui foi ir mais uma vez ao zoológico. Estou fazendo praticamente parte da família zoológica, já sei os nomes dos animais e fico triste quando não encontro a anta pelo mato. É que ela é o animal mais livre do Zoo, fica fora da jaula e a primeira coisa que todos querem ver é ela solta na vida. Pois não a encontrei desta vez, mas uma borboleta me surpreendeu pousando demoradamente para uma sessão de fotos. Quanto às onças, estavam todas juntas, as duas fêmeas e o macho velho, e nem se atracaram.

Surpreendentemente a sala das orquídeas pode ser aberta e pude então apreciar a grande quantidade de orquídeas amazônicas. Os orquidófilos ficariam babando apesar de apenas duas delas estarem floridas.

Depois fui a sala de sementes e insetos da coleção do Zoo. Tudo muito arrumado, caprichado, novíssimo. Só falta divulgação. Sugeri ao funcionário ampla divulgação mas parece que as coisas por aqui andam mesmo muito devagar e, talvez, algum dia o Zoo esteja lotado com criança pra todos os lados a correr e fazer perguntas sobre aquela fauna e flora tão real na vida delas.

Outro dia aconteceu uma coisa que me deixou desconcertada e irritada. Estava caminhando, caminhado, quando decidi ir até uns dos portões de saída do núcleo para ir ao Zoo (esta é minha escapada cultura favorita), quando de repente o guarda que cuida da segurança da entrada me barrou dizendo que eu não poderia sair. " -Como não? Eu não posso sair do núcleo, estou presa aqui dentro?" e o guarda educadamente respondeu "-Não senhora, não pode sair a pé por causa dos animais que ficam ao logo da estrada". E eu, impotente, coloquei meu rabinho entre as pernas, e como um cãozinho acanhado, retornei pra minha condição de detenta. Ainda bem que temos um carro na garagem!

Ontem uma iniciativa rendeu uma tarde agradável, conversa boa e os primeiros contatos com a vizinhança. Fiz um café para duas vizinhas da rua (afinal, não posso entregar os pontos e me enterrar em casa). O papo rolou fácil pois tudo era novo para as três. Trocamos receitas como boas comadres mas também combinamos saídas pela região e outros encontros com mais gente. Afinal, a rua é grande e o clube das procurando-o-que-fazer-por-aqui parece em expansão.
Minhas seis músicas no violão estão quase perfeitas e a voz se afinando a cada dia. Vamos ver se quando as aulas recomeçarem semana que vem, o professor chega com gás e me ajuda a buscar um motivo real pra continuar tocando esta vida por aqui.

Vou ficar por aqui aguardando os fatos e que sejam os melhores, caso contrário ... sigo tentando.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

I'm back, Jack.

Vocês devem estar se perguntando, o que é que aconteceu com a escrevente deste blog. São mais de 3 semanas sem nenhuma linha, nenhuma foto!? Ou talvez, estejam gostando das férias, nada pra ler ou ver, que parada providencial!

Mas tenho uma triste notícia, I'm back, Jack, e mesmo sem ter muito o que escrever sobre este mato sem cachorro, o desejo é de manter vivo o espírito investigador pra não sucumbir à paz reinante e pedir pra ir logo pro céu fazer uma pós-graduação.

Bom, mas a novidade são os novos ares em torno da minha cabeça. A pele está mais firme, as rugas bem escondidas e os olhos teimando em ficar abertos. O vento sopra e posso senti-lo diferente, mais suave, delicado, frágil. Depois de uma face lift não há como se sentir a mesma pessoa. Ainda estranho minha imagem no espelho mas vislumbro outras melhores, sei que a alma não sofreu com a agressiva intervenção, e até passou no teste de resistência, continua com a mesma pueril idade. Nela não há como intervir, a não ser pelo cirurgião tempo que não precisa de bisturi mas as incisões são definitivas e às vezes dolorosas, não há anestesia.

Mas mudando de conversa, ando procurando o que fazer. Digo, algo novo, que faça correspondência com minha nova fachada. Algo que me faça sentir realmente novinha em folha. Falando em folha, acho que não tenho escolha a não ser adentrar a floresta.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Trem da VALE











861 km - trecho entre Parauapebas e São Luis.




60 km/h - velocidade média




16 horas - tempo médio da viagem




10 minutos - tempo médio de parada nas estações




Paradas:




Parauapebas, Itainópoles, Marabá, São Pedro da Água Branca, Açailândia, Nova Vida, Presa de Porco, Altamira, Alzilândia, Mineirinho, Santa Inês, Vitória do Mearim, Mirante, São Luis.




Bumba-meu-boi e seus personagens


Bumba-meu-boi de Guimarães


Padre dá a benção aos carros em São José de Ribamar

Bandeirinhas por todo lado




terça-feira, 30 de junho de 2009

Tambor-de-crioulas

Raposa, onde se faz o bilro




Pescadores no pier de Raposa




Praia de São Marcos pela manhã




Riqueza tá na gente maranhense

Diz a lenda que o dia em que a serpente, que vive nas águas da baía de São Marcos, encontrar sua cabeça, toda a ilha de São Luis submergirá e com ela todos os seus filhos e riquezas estarão sob água para sempre.

Tudo é possível nestes novos e ameaçadores tempos de aquecimento global, e não podemos dizer que esta é uma lenda absurda; nossos índios com sua sabedoria podem até ver cumprir seus prognósticos, mas se isto acontecer, perderemos muito mais do que recursos naturais, desaparecerá uma das mais ricas manifestações culturais do Brasil, a festa do Bumba-meu-boi.

É de impressionar a diversidade cultural durante os festejos juninos em São Luis do Maranhão. Diferentemente do descuido, descaso e abandono de muito do patrimônio cultural da humanidade, título quase perdido tempos atrás, os bois, estão muito bem obrigado.

Bordado com mãos zelosas e talentosas das mulheres maranhenses, o boi tem vida própria nos braços do "miolo", homem debaixo do pano que dá alma e vida palpitante ao boi. Na verdade, é o boi que carrega a alma humana e dá livre passagem aos desejos do "miolo" por expressão e liberdade.

Vestidos com roupas mais ricas que o mais rico dos nobres, os brincantes, assim chamados nesta grande brincadeira junina, são incansáveis e capazes de virar noite sem nehum reclame ou sinal de cansaço. Imagino que a energia desta gente moveria montanhas se este fosse o objetivo. Mas melhor do que movê-las, é provocar a alegria e a admiração de todos que param pra ver dançar a beleza das gentes e ouvir o som ritimado das zabumbas e matracas. Crianças, jovens, adultos e idosos, brancos, negros e miscigenados, não há regras para participar, a não ser a paixão pela mais pura das artes.

Vem gente de todo o canto e cada canto com sua peculiaridade. O Boi de Guimarães, por exemplo, criado por quilombolas, remanescentes de escravos nas proximidades da cidade de Guimarães, é pioneiro no "sotaque" das zabumbas. O som é visceral e não dã pra não seguir seu ritmo que corre em todas as veias e é quando nos descobrimos negros também.

Eles vem de longe para a festa, com toda a bagagem recheada de saias, calças, chapéus de fitas, e o boi minuciosamente trabalhado em miçangas e paetês, fitas e bordados, tudo muito bem arranjado num design que deixaria qualquer estilista boquiaberto com tamanho talento e perfeição.

Esta gente vem passando suas tradições a séculos e parece que se aperfeiçoaram sem perder suas raízes. Continuam tirando das sementes e folhas do babaçu, do buriti, do dendê, e de outras tantas palmeiras, a fonte de seu sustento, da sua arte e de sua identidade cabocla.

Percebe-se que a história de nossoas raízes estão escancaradas em cada um dos brincantes e explicam tanto do que somos nós brasileiros. Observar esta gente é como se deitar num divã e descobrir de onde viemos, nossos traumas, conflitos, e o por quê de nossa luta por uma sociedade brasileira menos desigual.

No tambor-de-crioulas, três tambores feitos de tronco de palmeira e cobertura de couro, depois de aquecidos na fogueira feita na calçada, tocam tão forte que fazem tremer o chão onde mulheres de sais floridas não páram de rodar e cantar evocando o divido e o profano. Tentativa de sobreviver às agruras da vida escrava? Não há mais senhor de engenho mas percebemos que a resistência continua e numa bela manifestação de alegria.

São Luis estã recheado de arraiais, todos promovidos pelo estado do Maranhão. A organização é nota 10, há policiamento, livretos com programação à vontade e locutores entusiasmados narrando as atrações da noite que acontecem de hora em hora nos palcos.

Depois do banho cultural pelos arraiais, no domingo de manhã, cortando a ilha de São Luis, cheguei a São Jose de Ribamar e avistei logo o santo que protege a cidade. Tão religiosa que tem até seus carros benzidos pelo padre da paróquia. Inusitado! A fila de carros é grande e vem gente de todo lugar a procura da benção.

Chegando a Raposa, a pobreza é evidente, assim como a atividade pesqueira e artezanal. De fome não se morre porque o peixe é farto e a habilidade com os bilros, de impressionar. O restaurante mais famoso da cidade, O Capote, está lotado de ludovicentes (nascidos em São Luis), que vem apreciar mais uma vez a pescada ou anchova na brasa, os mais populares do lugar.

Converso com as rendeiras em suas lojas, compro alguns dos seus trabalhos, muito mais caros nas lojas de São Luis. Aqui elas vivem pro trabalho com as linhas e agulhas enquanto os seus homens descansam nas redes depois de semanas no mar pescando. As palafitas provem o espaço necessário para suas necessidades básicas e quando a maré sobe toca seus assoalhos de madeira e faz boiar o lixo depositado no manguezal.

Tristeza é ver a falta de infraestrutura turística num lugar com tanto potencial. Ruas esburacadas, lixo espalhado pelas palafitas, falta de sinalização e acessos, pier sem proteções laterais, etc, etc, etc.

De barco esqueci um pouco o cenário desleixado pra testemunhar o belo manguezal e a praia maranhense. Águas escuras, o mar nos convida pela temperatura morna e pelas ondas fraquinhas. A praia é ampla e se perde de vista. De volta ao barco ancorado no manguezal, avistamos mais uma vez as lagoas entre as dunas, nos lembrando que os Lençóis Maranhenses serão nossa próxima viagem.

Nosso guia mergulha e nos mostra como se pega rapidamente mexilhão. Sem nenhum equipamento, apenas as mãos, arranca do fundo do igarapé as pequenas criaturas vivas que depois de escaldadas em água fervente viram um super aperitivo ou mesmo um acompanhamento pro arroz.

Falando em arroz, o de cuxá vale a fama de delicioso. Quanto às frutas típicas, o sapoti e o abricó vendidos em barracas nas estradas, são suculentos, doces e não perdem para nenhuma das nossas mais conhecidas frutas.

Voltando pra São Luis depois do passeio a Raposa e São Jose de Ribamar, continuo gastando meu inglês com um Chinês, residente na Austrália, que veio ao Brasil a trabalho. Lucky guy! Nem ele falava uma palavra em português, nem o guia turístico falava um ai em inglês. Sendo assim, euzinha aqui teve que intervir. Consegui, então, retirar do guia as informações que eu não tinha e introduzir o China nas aventuras brasileiras. Ele ficou agradecido e aliviado por não ter desistido do passeio. E pra falar a verdade, em algumas ocasiões o inglês do China, apesar do sotaque carregado, me soou mais familiar do que certas falas que ouvi da boca de pescadores. Sotaque e vocabulário novo pra qualquer turista estranhar.

Agora, estou sentada no trem da VALE, de volta pra Carajás. Fazendo um balanço da viagem, percebo que aprendi demais, e neste saculejo bom, apesar de dia inteiro, estou com vista total para o céu azul-azul, salpicado de grossas nuvens, e o verde dos babaçuais é exuberante. Conversei com muita gente, de funcionários da VALE a trabalho, a acompanhante de gringos Japoneses em visita ao Brazil. Agora sei distinguir um babaçu de uma palmeira de dendê, mas muito mais que isto, aprendi a entender um pouco mais da gente brasileira.

Lá vai o trem cortando o Maranhão de novo, revelando que ainda se tem muito o que fazer nestas terras, só espero que haja a recuperação da floresta ou pelo menos a introdução de atividades autosustentáveis para preservar não só a riqueza natural deste estado mas as raízes culturais escondidas em cada pedaço de chão maranhense.

Se alguém quer ainda conhecer o Brasil de Cabral, venha logo pra estas terras porque aqui ainda tem cheiro de terra molhada, cor de jenipapo e som de sabiá.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Continuando abrindo as fronteiras

Pego o trem que vai pra São Luis amanhã de manhã, aliás pego o ônibus que vai para a estação ferroviária em Parauapebas, às 4h da manhã. A mala está pronta e diversos brinquedinhos estão dentro dela, já que a viagem leva o dia inteiro. Tem coisa pra todos os gostos e necessidades, de audiobooks a tea bag para um eventual resfriamento dentro do vagão. Como vou de classe executiva, e acreditem não paguei nada por isto, dizem que o ar condicionado é de doer. Então me preparei para este clima Europeu na versão brasileira com uma pachimina, meia e alguns tea bags.

Na verdade estou mesmo interessada é no trajeto a ser percorrido e nas pessoas que frequentam o trem. Há diversos tipos de vagão, e obviamente, há aquele onde ar condicionado é o vento pelas janelas, mas isto depois eu conto. Quero sentir os aromas, os humores e descobrir as cores deste corte que será feito entre a vasta floresta e o mar que cerca São Luis por todos os lados. Uma ilha, imaginem só! Talvez poucos saibam disto, na escola a única coisa que aprendemos sobre São Luis é que era a capital do Maranhão. Pois vou checar bem de perto esta nova fronteira brasileira que anda muito colorida e festeira. O boi tá solto, cheio de brilho e graça por lá.

Engraçado que mesmo com toda esta cultura do boi, até em restaurantes indianos por aqui se prepara uma boa picanha. Bumba-meu-boi bumbá, bumba pra não dançar! Mas não tem jeito não, já sei que verei vastas áreas desmatadas cheias daqueles pontinhos brancos aglomerados. E não são como minha filha pensava, pedras pintadinhas de branco, são gado mesmo pastando a grama que um dia substituiu as árvores amazônicas. Sei que ainda verei aqueles palitos queimados gigantes, mortos enterrados em pé, esquecidos pela despalitagem.

Vou de peito aberto e todos os sentidos on-line. Já aprendi a gostar um pouco do Maranhão pela Leda que trabalha aqui em casa. Lembram dela, Rosileide? Ainda hoje tive uma conversa séria com ela sobre escola. Perguntei se ela já se matriculou na escola e ouvi um "Meu marido não deixa", e então se seguiu um discurso acalorado e cheio de razões para convencer não só a ela, mas o marido e a sogra que diz que a época da Leda estudar já passou. Pode? Usei todos os argumentos possíveis mas acabei apelando pra VALE dizendo que qualquer dia ela solta uma exigência de escolaridade para todos os empregados de empreiteiras, já que para seus próprios empregados o segundo grau é o mínimo exigido. Pode ser que assim eles entendam que emprego vai ser disputado por aqueles que frequentam a escola e quem sabe esta região esquecida pelo nosso país venha mostrar a riqueza que tem.

Bom, lá vamos nós ver o que é que o Maranhão tem. Piuiiiiiii!Piuiiiiiiiiii!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Abrindo as fronteiras








Neste sábado deixei nosso platô, desci a serra pra visitar a Mina do Sossego. Ela fica a mais ou menos 77 km de Parauapebas, fora do Parque Nacional de Carajás, ou seja, em área desmatada anteriormente por posseiros e pecuaristas. Depois que a Vale tomou posse de um garimpo de cobre e começou suas atividades, o pequeno povoado de Canaã dos Carajás, hoje cidade, vem se desenvolvendo a todo o vapor. Ela abriga hoje muitos funcionários da Vale e de empresas prestadoras de serviço, o comércio vem crescendo a olhos vistos e a especulação imobiliária é algo que surpreende e atrai pessoas para aquisição de terras e construção de imóveis.

Peguei o ônibus da Vale com alguns professores (visitantes) da cidade, em frente a Casa da Cultura de Canaã, e ali já comecei a perceber que a cidade tinha um diferencial. Talvez por ser menor e de uma certa forma planejada, pude notar mais organização das ruas, apesar de muros altos e cercas elétricas. Segundo antigos moradores, funcionários da Vale, hoje não há mais casos de roubos a casas, o que torna desnecessário tais apetrechos, mas mesmo assim eles são mantidos e deixam uma impressão de insegurança.

Mas voltando a Casa da Cultura, fiquei bem impressionada, o lugar é amplo, as instalações simples mas de bom gosto e percebi que atividades acontecem. Havia uma exposição de vasos de cerâmica no saguão e objetos confeccionados em cursos de cerâmica.

Depois de alguns minutos estávamos na mina e quatro funcionários da Vale nos receberam para uma apresentação sobre meio ambiente. Houve interrupção para que chegássemos ao local da cava antes da explosão programada, e aí sim, começamos a nos sentir em terreno desconhecido e de risco.

Há duas cavas, a do Sossego e a do Sequeirinho, ambas em operação e intensa atividade. Pudemos ver aqueles caminhões de rodas gigantes, e põe gigante nisto! Também vimos outros equipamentos enormes, mas não pudemos visitar as instalações por dentro. Funcionários da usina e da hidrometalúrgica nos recepcionaram com explicações e respostas aos nossos questionamentos.

Ao final soubemos da parte sócio-ambiental coordenada pela compania e vimos que a Vale, se não é o próprio poder público local, faz praticamente seu papel, e muito bem feito. Existem diversas atividades desenvolvidas na comunidade, como treinamento de professores, preparação de profissionais de diversas áreas, construção de escolas, delegacia, Câmara de Vereadores, etc. São inúmeras ações que nos deixam desejando que outras empresas sérias, cheguem em todos os recantos do país para trazer progresso.

Voltei satisfeita com o que vi e fizemos uma viagem tranquila graças a estrada asfaltada também pela Vale.

Digam o que for com relação a destruição que uma mineração causa ao meio ambiente, mas em compensação a ordem e o progresso inscritos a tantos séculos em nossa bandeira parece encontrar um caminho neste vasto e esquecido Norte, que começa agora a querer fazer parte do Brasil do Sul que conhecemos e desejamos.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Tudo azul, quero dizer, verde


Cá estou de volta na versão campestre. Depois de ajustar os ponteiros com o tempo amazônico, entrei no rítmo das árvores e pássaros que insistem em me dizer que esta é a melhor opção para encarar de frente nossos bichos. Com certeza mais perigosos do que as onças famintas da floresta.

E se é pra encarar, então vamos fazer de forma saudável! Rúcula, couve, hortelã e agrião, estas são as primeiras colheitas da horta. Faz mais ou menos um mês que comecei a aventura de fazer uma horta, digo isto porque tudo por aqui demooooooooora, mas para minha surpresa, as verduras cresceram como num passe de mágica e praticamente não precisei molhar. Digo praticamente, porque agora parou de chover (inacreditável) e apesar da humidade e do orvalho à noite, as verdinhas precisam de água.

Então, só pra fazer água na boca de quem lê estas mal traçadas linhas (acho que já li esta frase em algum lugar, desculpe o plágio), hoje comemos uma super salada de rúcula com manga regada a fios de azeite extra-virgem e pitadas de sal. Não parece muito apetitoso? Pra quem não reconhece os prazeres mais primários da vida humana, talvez não, mas como estou resgatando este ser primitivo que existe dentro de nós, me deliciei comendo o matinho.
Outro hábito saudável, principalmente pra combater o famigerado colesterol, é comer couve, certo? Pois, de manhã cedo, a primeira refeição é uma folha retirada fresquinha, ainda orvalhada, do cocho, chamado horta. Ela desce goela abaixo e vai varrendo o sangue que circula pelo meu cérebro dizendo pra todas as células que no próximo hemograma vai ter comemoração. Dedos cruzados e só descruzados pra segurar a caneta com chá verde, que complementa esta vida, que de tão saudável, às vezes me deixa doente.
Bom, mas não vamos começar, os ponteiros estão acertados, e a vida continua... Parauapebas não me deixa mentir. Ô cidade pra crescer rápido! Hoje conheci o novo Parque Moveleiro. E só pra encurtar a conversa, o título é bastante otimista e a matéria prima, fruto do desmatamento.
Volto então pra Serra dos Carajás e tiro estas fotos do meu verde, que em breve estará devidamente desmatado e acondicionado na panela.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Nem cá nem lá

Esta é a sensação depois da folga. Um estranho sentimento de ausência e permanência que incomoda e deixa a gente sem saber o que fazer. Mas é por pouco tempo, depois damos um jeito de recuperar uns pedaços deixados no caminho e tentamos montar o quebra-cabeça novamente.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Nos preparativos

Cá estamos nós, serenos, tranquilos, depois da possibilidade da secretária não comparecer às obrigações domésticas e me deixar temerosa pelo estado deplorável que estaria no meu niver. Yes! Today we're gonna throw a party, uhu!

Não conheço muita gente e esta é a chance de fazer contatos mais estreitos e ampliar os horizontes nesta tão fechada floresta. Sendo assim, agora estou saindo para mais uma caminhada revigorante nas imediações. Colherei mais umas florzinhas e encherei de perfume a casinha. Tem algo mais feminino?! Pois é, novos tempos, um novo ano a frente e enfrentá-lo com gente e flores ao redor me enche de ânimo. Vamos lá então. E pra completar, amanhão estou de folga, uhu! Sigo pro Rio com uma pequena parada em BH pra ver amigos. Até. Fuiiiiiiiiiiii!!!

domingo, 31 de maio de 2009

Nada de florzinhas





Este negócio é mesmo pra meninas, quero dizer, casinha, jardins, comidinha gostosa, tudo limpinho e arrumadinho. Tudo muito bom, maravilhoso, fundamental, mas isto tudo contrasta com o mundo muito diferente da mineração, que de delicado não parece ter nada, talvez alguns comportamentos essenciais ao relacionamento humano, talvez algumas tarefas menores, mas a grande tarefa de extrair, e não acho palavra mais apropriada, o minério da natureza, esta é violenta, agressiva, monumental, impressionante.

Os geólogos tem seu dia, 30 de maio pra quem não sabe, e todos os anos comemoram com eventos especiais e uma festa, o geogole, que agrega não só geológos mas amigos e simpatizantes da causa geológica. Pois bem, a festa foi ontem, e como era de se esperar só acabou quando não tinha mais uma garrafa de cerveja em pé. Ponto final, todos vão trôpegos até o próximo bar, bebem mais umas, e se dão por vencidos ou vencedores de uma façanha que é mostrar pra o que vieram.
Quinta e sexta-feira estas criaturas estranhas por natureza, incluiram na comemoração, visitas a algumas vilas próximas a Carajás. Pude acompanhá-los na sexta e foi aí então que testemunhei os fatos.

Um dos caminhos às vilas passa por dentro da mina de ferro. A estrada que chega até lá é sinuosa, esburacada, lamacenta, vai num sobe, desce que impossibilita qualquer Clio 1.0 de pensar em se aventurar por ali. Mas o que surpreende é a dimensão do negócio, acho que esta é uma boa palavra pois é dali que a Vale tira a maior parte de sua receita.
As estruturas são gigantescas e se acomodam nas entranhas da ex-floresta aproveitando sua silueta arrojada e proeminente que ainda mostra seu verde às margens da grande cava. As esteiras carregam o minério lembrando um parque de diversões, principalmente pela aventura e o risco das precipitações, que no final acabam por jogar nos vagões de trem o resultado do tamanho da força e desafio do homem.

Decididamente, isto não é coisa pra meninas, que as feministas me perdoem, mas quem inventou este negócio de mineração, foi o menino mesmo, sempre desafiando as forças da natureza. É uma briga sem fim, e o geólogo diz que não há limites, o futuro está no espaço, nos outros planetas, nas estrelas, quem sabe no sol.

Quem viver verá, enquanto isto vou colhendo minhas florzinhas no campo, e registrando outras no meio deste inexorável caminho do homem à dominação.


Seguem duas fotos da presença dos geólogos nas escolas. Afinal o conhecimento tem que ser passado a diante e quem sabe novos geológos apareçam pra engrossar esta raça de bichos do mato que numa simples 'pedrinha' lêem uma história de milhões de anos.



quarta-feira, 27 de maio de 2009

Hollywood é aqui ...

... e o Wolverine (Hugh Jackman) está muito lindo no telão!!!

Em outros tempos, obviamente, eu não iria ao cinema para ver X-Men, muito menos, the origens, mas por falta de outro filme, de outro cinema, lá estava eu, e o Beto. Ele, cinéfilo daqueles que vê o mesmo filme trocentas vezes, gostou da única opção cinematográfica para uma terça à noite, e além do mais o filme está em cartaz em todas as capitais. Não seria um absurdo deixarmos de contribuir com a big bilheteria do blockbuster?

Pegamos nosso carro cinco minutos antes do início do filme, o suficiente para percorrer os mais ou menos um kilômetro do trajeto casa-cinema. Ecologicamente incorreto, certo? Errado, porque à noite todas as onças são pardas, então melhor não arriscar.

Chegamos ao Cine-teatro, uma obra bonita e imponente cercada de floresta por todos os lados. Surreal! No estacionamento já havia quatro carros estacionados. Para uma terça-feira, isto é surpreendente. Compramos os ingressos, que de terça a quinta é mais barato - R$ 4,00, passamos pela roleta (totalmente dispensável) e depositamos os ingressos numa urna. Tudo a moda meio antiga. Bacana! A fila da pipoca já estava formada e na sala de projeção as pessoas conversavam.

Em poucos segundos o filme começa e do início ao fim estou sob forte tensão. Wolverine e seus parceiros mutantes fazem toda-minha-ultimamente-estocada adrenalina, reaparecer, e fazer os batimentos cardíacos ultrapassarem todos os níveis estáveis de uma vida no mato.

Bom, se o filme valeu a pena? Sim, porque cinema em Carajás nunca será pena, e além do mais, tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Portanto, que venham outros X-Men que estarei brigando por um ingresso e se preciso for enfrentando todos os engarrafamentos do Núcleo.

Segue mais florzinhas que colhi pelo caminho hoje de manhã. Ainda bem que não tinha lobo mau por perto.


segunda-feira, 25 de maio de 2009

Verão chegando






Um jarro de flores naturais é algo que ultimamente vem me encantando. Comprei um vaso de pedra sabão em Lavras Novas, MG, e não havia encontrado as flores ideais para ele. Tentei algumas flores artesanais, pensei em algumas outras opções, mas nada me convencia para uma estética ideal. Então o vaso veio pra Carajás vazio, sem graça e encontrava-se solitário num canto do móvel. Cheguei a colocar uma planta dentro dele mas pior não podia ter ficado, ele é redondo e pedia algo leve para suavisar sua planetária presença.

Estes dias andei andando muito pelo Núcleo, excelente para caminhadas, não entendo porque as pessoas ainda pensam em comprar esteiras para suas atividades aeróbicas. Uma volta inteira leva aproximadamente 45 minutos, se quiser ir zigue-zagueando pelas ruas, levará mais tempo mas poderá apreciar os jardins e varandas que recebem de seus donos toques especiais e reveladores das mentes e corações habitantes. É muito interessante ver tantas mesmas casas com personalidades tão diferentes.

Mas enfim, um dia sem chuva, ou melhor dois dias sem chuva! Wow, por onde andam as nuvens carregadas e o céu pronto pra desmontar em cascatas?! Mais eis que de repente, atravessando uma rua, chego à calçada e uma cerca viva captura meus olhos. Me aproximo e o que vejo são delicadas flores, muito oferecidas por sinal, saltitantes por cima da folhagem. Chegou o verão, primavera por aqui não existe, e sem chuva as frágeis florzinhas acontecem sem medo do risco.
Não tive dúvida, elas eram as flores que faltavam no meu vaso vazio. Imediatamente as colhi, ainda bem que o IBAMA não estava por perto, e levei-as para casa. Não precisei de muito arranjo para colocá-las dentro de um copo d'água açucarado e depois dentro do vaso. Do jeito que as coloquei, assim elas ficaram, e eu não poderia deixar de mostrar o resultado aqui. Então, deleitem-se agora porque não sei quanto tempo elas vão durar, mas que sejam infinitas enquanto durem.


quinta-feira, 21 de maio de 2009

Lembrei que tem uma foto dos ouriços no texto de Belém do Pará

Orgânicos - continuação

Minha filha hoje ficaria orgulhosa da mamãe aqui. Comprei banana orgânica!!! Do jeitinho que ela compra na feira da Glória, pequenas, feiosas, mas suculentas e totalmente desprovidas de pesticidas. Um deleite total para os naturebas. E viva o verde!

Bom, hoje fui a feirinha que tem no centro de Carajás para comprar tapioca. Yes, por aqui também tem biju e do jeitinho que se vende na Bahia, por litro. Aproveitei para trocar umas idéias com a senhora Francisca e acabei contratando um escambo. Próxima semana trocarei terra vegetal por roupas. Acreditem se quiser, mas isto aqui é outro mundo. Haviam me falado sobre esta senhora e do inusitado comércio, fui então conferir. Negócio fechado e agora só preciso arrumar umas roupinhas ou toalhas de banho pra permutar com a terra vegetal que irá direto para a horta e o minhocário.

Nesta feirinha a gente encontra outros produtos como mandioca, laranja, maracujá (8 por R$3,00, uma pechincha), jambu. Pois deixa eu falar um pouco mais desta verdura pra lá de paraense pois é utilizada nos principais quitutes daqui: pato ao tucupi e o tacacá. E segundo o Wikipédia, até em pizza cai bem na mozarela, além de trimilicar os lábios de seus comensais. Seja lá o que isto quer dizer, deve fazer muito bem porque os Chineses não dispensam a especiaria. Qualquer dia vou comprar o jambu e lhes conto qual foi a reação dos meus lábios.

Mas voltando a feirinha orgânica, que não tem toda a fama da feirinha da Glória mas as semelhanças são muitas, solicitei também a Francisca uns ouriços. Não se assustem porque não é o que estão pensando, ouriço aqui é o fruto da castanheira. Ele também é redondo mas não espeta. Tem um buraco e dentro ficam as castanhas que são as sementes. Retirando suas cascas grossas e que dão o maior trabalho, encontramos o que se pode e deve comer. Rica em selênio, a castanha tem poder anti-oxidante e os entendidos andam recomendando três por dia pra gente poder morrer saudável.

Preciso andar com minha máquina em punho. Nada como matar a cobra e mostrar o pau. Opa! Esta expressão é totalmente incorreta por aqui. Mas falando em animais da floresta, sabiam que a cotia é a principal plantadora de castanheiras da floresta? Aliás ela é responsável pela plantação de várias árvores, ela não pode ver uma sementinha que já vai esconder debaixo da terra, se brotar vira refeição, se por acaso a cotia esquecer de voltar ao lugar onde a plantou, vira árvore.

E por hoje chega de cultura amazônica! O sono bateu e garanto que as cotias foram pra cama. Só ouço agora o som dos grilos. Até mais.

domingo, 17 de maio de 2009

Orgânicos


Depois de muita luta pra conseguir um local e os ingredientes necessários para uma horta, plantamos hoje as primeiras mudas de verdura. Consegui com um dos vizinhos distantes algumas mudinhas de couve e com os vizinhos próximos, que conhecemos hoje, hortelã e (quem diria!?) taioba (obviamente fui apresentada a ela com historinha de avós e tudo).

Algumas pessoas por aqui tem horta em casa, mas toda à atenção tem que ser dada as cotias que adoram brotos. Sabiam que elas pegam os carroços de abacate, manga ou outra fruta, enterram e quando aparecem os primeiros sinais do broto, retornam para se deliciarem com a nova plantinha? Isto me faz lembrar os novos quitutes naturebas que são os ' sprouts' (brotos), vi algumas lojas no Canadá onde plantam sprouts até pra gatos. Achei que isto era uma novidade mas a natureza vem fazendo isto a muito tempo, nós é que estamos atrasados. Energia vital vem mesmo dos brotos! (Acho que isto vale também pra raça humana, o que acham?)

Sendo assim a manhã foi totalmente sócio-natural, eu diria. Começamos nossas primeiras relações sociais com os vizinhos e ainda de quebra iniciamos uma relação orgânica com nosso quintal. Até então era a luta jardineiros x minha pessoa, irritada e impaciente com a incompentência e abuso local.

Acho que estamos no caminho certo da auto-sustentabilidade porque pra completar, um minhocário está em processo. Descobri que não podemos trazer animais que não são endêmicos da região, e até pensei em como seria para fazer um minhocário, já que o meu fornecedor de terra vegetal, que se disse ser conhecedor de técnicas agrícolas, negou a existência de minhocas na floresta. Estranhei, mas como tudo aqui é possível, pensei que talvez a minhoca estivesse preferindo também o asfalto. Bom, mas remexendo a terra trazida pelo sujeito citado acima, descobri algumas, e estava SEM óculos, o que me faz pensar que: ou o cara é cego, ou um contador de histórias, pra não dizer outra coisa.

Vou lá fora agora tirar uma foto da horta, e não estranhe o design, é horta mesmo e não cocho, porque não pretendo e nem posso criar um bezerro por aqui.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

The book is on the table again

Voltei minhas atividades linguísticas, ou seja, meus alunos estão sofrendo nas minhas mãos. Digo isto não por desmérito próprio mas porque acho que sou das antigas. Tem que fazer paracasa, ler um livro por semana, assistir a filme, fazer apresentação, ouvir CNN, e durante a aula não pode respirar. Opa! Agora fiquei preocupada, será que eles vão me aguentar?

Bom, mas voltando a falar de flores (já notaram que esta é uma boa forma de sublimar os problemas?) ontem fui a floricultura do núcleo e achei muito chic poder escolher as flores que desejo comprar num catálogo. Isto é Carajás! Você chega na loja tem só meia dúzia de flores e metade disto de vasos, aí vc fica desanimada e a depressão chega. Mas aí vc começa a conversar com a vendedora, que tem todo o tempo do mundo e lhe dá maior atenção, e descobre que as plantas vem de Holambra por encomenda. Vc escolhe num belo e colorido catálogo e em quatro dias recebe as belezuras. Estranho, né? Sinto-me na fazenda comprando enlatado. Mas gostei da experiência e pretendo voltar mais vezes à loja. Nada como estas facilidades de cidade grande. Qualquer dia estou até mandando flores pra vcs!!! Me aguardem.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

What a nice surprise!!!




Ufa! Aí estão algumas das orquídeas encontradas no Jardim Botânico. Felizmente o blog e a Vale continuam me permitindo fotos e vídeos. Sendo assim, logo que a chuva pare, poderei continuar minhas atividades jornalísticas por estas bandas do norte. Por ora, estou apenas colocando minha rotina em dia, mas só o suficiente pra não perder o prumo. Volto em breve com notícias (espero que boas).


segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sintonia fina

Liguei meu rádio e ainda não consigo sintonizar minha estação favorita. Depois de dez dias sem chuva, temperatura de outono, aconchego dos filhos, família e amigos no Rio, só alguns dias me farão recompor e voltar a sintonizar novamente. Por ora estou fazendo uma força danada pra não quebrar o rádio.

Ainda por cima me parece que este blog não vai aceitar mais fotos e vídeos. Ou será a Vale mais uma vez restringindo. Vou precisar checar num outro computador porque minha esperança de ter internet própria também foi por água abaixo. O conexão do modem da TIM que comprei chega do sul maravilha de jegue. Será que chega?

Bom, mas pra não dizer que não falei de flores, uma das coisas que fiz na folga foi ver orquídeas no Jardim Botânico. Se pudesse colocaria aqui algumas fotos.Que coisa mais linda todas aquelas variedades, algumas que jamais tinha visto. Andar por aquele Jardim e testemunhar tantas maravilhas da natureza não me fez em nenhum momento pensar no meu mato sem cachorro. Inexistente.

Pedalei pela ciclovia, caminhei pelo Arpoador e tomei aquela água de coco gelada que me esperava fazia 3 semanas. Doce como pensada e energética como requerida.

Estas foram as primeiras providências depois de beijar o solo carioca e abrir os pulmões pra todos os ares urbanos.

As segundas providências depois de encher a geladeira com o rango da semana, verificar se tudo estava no seu lugar dentro de casa e programar alguns encontros com a família, abri o journal e procurei o que sabia encontrar de sobra. Difícil decidir dentre tantas coisas legais pra ver. Duas delas cito aqui como sugestão:a peça 'Gloriosa' com Marília Pera (agora só em SP)e uma esposição no Centro Cultural da Justiça Federal. E que lugar bonito este Centro!!! Quem nunca foi, vá e não deixe de ver o salão dos juízes. É uma bela viagem ao passado.

Pois bem, fechamos a semana com um encontro do dia das mães. Abraços, beijos e um até junho quando nos veremos de novo.

Então tá né, fazer o que?

Opa! Aumenta a música que tá começando a tocar no rádio.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Chove chuva, chove sem parar...


Não sei de onde vem tanta água, por favor meteorologistas de plantão, me expliquem porque tanta chuva. Não faz nem sol pra poder evaporar água e formar nuvens?! São litros e litros de água jorrando todo dia. Como diz o Beto, previsão do tempo aqui é muito fácil - chuva para as próximas 24 horas.
Mas por aqui não tem tempo ruim, a galera vai pra escola, pro trabalho, às compras, com chuva e tudo. A diferença é o tamanho dos guarda-chuvas, parecem barraca de praia.
Hoje a noite saí pra caminhar e vi um céu estrelado e uma lua crescente, mas isto não quer dizer que amanhã teremos sol. Nananinanão... o céu amanhã vai desaguar em nossas cabeças mais uma vez. Se desse pra canalizar esta água e mandar pro Nordeste, ele iria realmente virar mar. Cadê o povo da transposição do São Francisco? Não dá pra transpor o Rio Parauapebas?


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Até Picapau tá pirando

Não estou falando isto por alguma razão pessoal, mas é que ouvi uns papos de depressão que me deixaram preocupada. Mas o fato é que algumas coisas estranhas andam acontecendo e depois que o Picapau errou o pau e veio picar o poste, não me surpreendo com mais nada.

Estive ausente por uns dias mas é esta vida agitada... muitos programas sociais, encontros, almoços, viagens, etc, etc, etc. Nem te conto. Tá bom eu vou contar, aí lá vão as manchetes:

Jogo do Cruzeiro x Atlético rende bom papo e sábados na floresta - Convidados para o último jogo dos times citados (mineiro aqui é mato, sô), conhecemos uma menina que participa de um grupo que faz caminhadas e rapel pelas cachoeiras da floresta. Todos os sábados eles se aventuram por trilhas na mata e já estamos inscritos para as novas aventuras. Aguardem notícia.

Coquetel é o melhor das sextas - Vocês devem estar se perguntando o que se faz por aqui nas sextas-feiras. Bom, ainda não sei exatamente mas descobri que o Pub na pracinha perto de casa faz uns coquetéis maravilhosos. Isto quando tem todos os ingredientes e você chega antes das 22h, quando a simpática garçonete chega dizendo que em poucos minutos encerrarão as atividades. Pode?

Encontrado o jardineiro ideal - Depois de uma incansável e interminável tarefa de percorrer as ruas do núcleo para achar um jardineiro que finalizasse o serviço inacabado e mal feito do primeiro incompetente contratado, achei o seu Cícero, senhor baixo de andar cansado, óculos tortos e caídos, pele maltratada de sol, mas que soube entender o que eu queria e não fugiu da raia. Em dois dias terminou o serviço e prometeu voltar no futuro. Ufa!!! Daqui a alguns meses mostro a grama verdinha e cortadinha, quem sabe até com um Ipê plantado na frente de casa. Parece incrível mas está difícil arrumar uma muda de árvore por aqui.

Filhos já podem se orgulhar dos pais - Meu segundo dia de aula de violão já não doeu tanto. Os dedos já movimentam-se livremente, ou quase. Marcelo já pode dizer que o presente dado no Natal não foi em vão, o bichinho perdeu o mofo, as cordas vibram e a caixa ressoa afinada. Mais uns meses e estarei incomodando os vizinhos. Quanto ao Beto, este será o orgulho da Barbara, só abla espanhol e anda cantando "Quanta la mera" todo dia, quero dizer Guantanamera (viva o google!).

Baiano de Ilhéus faz sucesso no Peba - Sábado passado fomos almoçar no 'Acarajé do Baiano', restaurante de comida típica baiana. Deliciosa peixada amarela com pirão de peixe, arroz bem branquinho e vinagrete. Saudade do tempero baiano. Depois do almoço ele nos contou sua odisséia pelas terras paraenses mas anda feliz com o sucesso. Afinal, baiano é o que não falta por aqui e ainda tem os emprestados.

Bom... vou parando por aqui minha gente, com tanta agitação, fiquei cansada. Até mais!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Tudo igual mas diferente

A sensação que se tem aqui em Carajás é que nada muda. Tudo parece não se mover. Até a água da chuva, que se caisse no Rio de Janeiro, por exemplo, iria inundar a cidade, deslizar encostas, derrubar árvores, entupir ralos, fazer subir até o Canal do Jardim de Alah que vai pro mar, até este dilúvio de água não consegue mudar a paisagem. Ah! Com exceção de uma outra ávore que cai na estrada que vai pro Peba, não há sequer uma poça d'água depois da chuva.

Pelo fato de estar num platô e ter sido inteligentemente construído, o Núcleo de Carajás manda toda a água que cai dos céus pra baixo. Parauapebas é que sofre, pois fica no pé do morrão.

Bom, mas hoje fiz uma coisa diferente. Fui me matricular numa aula de violão. Depois que o Marcelo nos deu, pra mim e pro Beto, um violão de presente, tenho pensado em não o decepcioná-lo e começar a arranhar umas notas. Na verdade, sempre tive vontade de aprender, mas sabe como é... Então hoje fiz meu dia diferente e enfrentei os dedos duros, a voz enferrujada e o violão quase mofado.

Posso dizer, que apesar de ter saído meio torta da aula (hora e meia de puro contorcionismo), não fiz feio, acho que há esperança. Estou cheia das tarefas e de agora em diante eu vou modificar o meu modo de vida (só pra homenagear nosso Roberto Carlos). Vou botar música neste mato sem cachorro.

Então, me aguardem.
Beijo

domingo, 19 de abril de 2009

Comentários





Sou uma blogueira mesmo de primeira viagem. Só agora vi os comentários de meus primos João e Sérgio, o que me deu uma grande alegria e vontade de escrever mais.

Quando vai chegando perto da minha folga (20 x 10, ida pro Rio, oba!) vou ficando meio impaciente com algumas coisas, e hoje, pra escapar também da falta de energia que deixou o dia no Núcleo ainda mais silencioso, resolvi que iríamos ao Zoo.

Não digam que é programa de índio porque eu vou ter que concordar. Sabem quem nós encontramos por lá? Um índio e uma índia Xicrin, obviamente não estavam pelados o que nos deixou um pouco mais a vontade em chegar perto e conversar. E foi o que eu fiz embora Beto ficasse me puxando pra ir embora. Ele deve ter suas razões, mas eu estava muito interessada em levar um papo com eles.

O índio falava conosco um português de iniciante e uma outra língua, talvez o tupi-guarani, com a índia. Esta só mostrou pro que veio depois que começou a fazer umas tatuagens nas moças. Que habilidade! Rapidamente ela pintava e desenhava usando um pauzinho que passava na mão-palheta cheia de jenipapo.

Pois então, informo aos leitores deste blog, Jenipapo, em tupi-guarani, significa "fruta que mancha ou de fazer tintura, fruta que serve para pintar". Tudo comprovado. Ele pinta que é uma beleza! O que escreveram nos livros está conferido ao vivo e à cores.

Quanto ao índio, vendia tacapes, arco e flexa de brinquedo e um enfeite pra cabeça. Ele observava e dava o preço das coisas. Tinha aquele jeitão de índio dos livros e até uma cara simpática. Comprei um enfeite pra cabeça, tentei arrancar-lhe mais algumas palavras mas acho que ele só aguardava a índia terminar o serviço pra pegar sua canoa e descer o rio. Ou quem sabe, segundo o Beto, pegar sua D20 e descer a estrada para o Peba.

Nunca se sabe o que acontece por estes lados de cá. Este Brasil daqui é uma surpresa todo dia. E a pergunta é: até quando poderemos nos encontrar com índios falando suas línguas e vendendo seu produto?

Voltei pra casa com a sensação de ter conhecido o Brasil do passado, o mesmo que trocou suas riquezas por poucos reais.