terça-feira, 23 de novembro de 2010

Vidas novas chegando



Tem tempo que não registro meus momentos aqui neste mato sem cachorro. Acho que ando meio distraída, quero dizer, entretida com outros bichinhos. Mas depois do que vi esta semana, logo após uma torrencial chuva de madrugada e uma linda manhã de sol, meus dedos começaram a coçar novamente e aqui estou eu teclando.

Desci a serra até Parauapebas e não pude evitar o atropelamento de centenas de borboletas. Me desculpe mãe natureza, mas não tive culpa, as borboletinhas invadiam a estrada aos milhares e me fizeram perplexa com tamanha beleza. Até aquela grande, azul cintilante, ousou me encarar no para-brisas do carro. Pensei que as águas, não de março, mas de novembro, aqui neste outro quase hemisfério haviam chegado e com elas novas criaturas para alimentar este ciclo verde infinito.

Voltei pra casa depois de resolver algumas coisinhas no Peba, tomei meu banho e já ia preparar o almoço quando vi através da tela da porta da sala as borboletinhas novamente. Como não bastasse a estrada, invadiram também o jardim de casa. Que maravilha!!!

Abri a porta e fui apreciar a revoada caótica e frenéticas das recém-nascidas, e vi que se amontoavam na rua próximo ao meio-fio, em frente à casa vizinha. Vagarosamente me aproximei das verdinhas e pra meu espanto elas estavam reunidas numa poça de lama, cheia de material orgânico. Talvez seja hora de almoço, talvez estejam em conferência, talvez estejam celebrando com um drink. Sei lá, o que faziam, mas não pude evitar uma corrida até minha máquina fotográfica.

No sol, que secou quase imediatamente meu cabelo molhado do recém banho, fiquei registrando aquelas pequenas coisinhas coloridas que ora ficavam paradas, ora batiam loucamente em círculo, fugindo de alguém que passava. Eu, paralisada, só mexia o dedo indicador para disparar as fotos. Quase sem respirar, batia sem parar tentando captar cada movimento e posição que as voadoras faziam. A luz do sol batia em suas asas e davam brilho especial às cores verde, amarelo, laranja, tons suaves fazendo o conjunto dos seres, o mais bonito que vi nos últimos tempos.

Depois deste emocionante episódio, voltei pra dentro de casa e fui esquentar a comida pois o corpo já estava quente do sol e o coração aquecido até demais.








sábado, 16 de outubro de 2010

Davi

Fico emocionada ao escrever seu nome. É minha primeira vez, e como todas as primeiras vezes, há uma certa magia. Você já é uma presença em nossas vidas apesar de estar no planeta água, distante, sozinho, quietinho, ainda com muito espaço para mergulhar nas águas da sua mãe, minha filha.

Queria te dizer que seu cordão umbilical já está conectado a mim também, e que sua respiração já sobra suave na minha face. Já posso sentir seu toque, escutar sua fala e enxergar seus olhos. Estou ficando mais perto de você.

Queria te dizer que estou me preparando para quando você deixar este seu mundinho, pronto para se aventurar neste mundão. Estou me aquecendo para não lhe faltar calor.

Queria te dizer que farei de tudo para que você cresça no melhor dos mundos, o dos afetos. Sei que ainda vou ter que aprender muito, e para isto conto com você. Vamos trocar muitos, mas muitos beijos e abraços em nossas aulas de carinho.

Queria te dizer que seja você quem for, sei que é único e por isto devo me entregar intensa a esta aventura que é o conhecer humano. Estou cheia de ilusões, porque delas faço hoje, minha nova realidade.

Queria te dizer que vou continuar me preparando, e sempre que preciso, para que eu seja na sua vida um bem que nunca se acabe. Meu coração já está nesta sintonia e batendo no compasso do seu coraçãozinho. Não podemos deixar que sobressaltos atrapalhem nossa música, porque daqui por diante cantaremos juntos.

Por último queria te dizer que seu nome já me faz sonhar, e se você também sonha, que a gente já marque um primeiro encontro, o primeiro de muitos ...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Novos hóspedes








A vida neste mato sem cachorro continua tranquila, não há nada que possa alterar esta rotina caseira, florestal, mineral, ou lá o que seja esta quietude externa, porque a interna continua procurando algo novo, como sempre.


Esta semana a rotina foi quebrada infelizmente por um acidente fatal. Então é bom não desejar muito que algo aconteça por aqui porque pode deprimir mais ainda. O empregado de uma companhia desceu mina abaixo de caminhão e só foi parado por um bloco de rocha dura que não aliviou sua agonia. O choque foi desastroso e ele não teve tempo nem de pular pra fora do veículo, e a morte o recebeu de frente. Muito triste.


Mas a vida continua e temos mostra tripla acima da porta de nossa varanda. A alguns dias atrás um passarinho trazia gravetos e numa engenharia perfeita produziu um berço esplêndido para os ovos que logo em seguida foi colocando. Nosso geólogo sempre de plantão deu sinal do acontecido e feliz da vida veio me dizer que tínhamos hóspedes. Como assim, perguntei? E ele, vibrando, disse que a mamãe passarinho chocava pacientemente seus ovinhos e só saía para comer mas voltava literalmente voando pra não deixar seus filhotes desprovidos de calor, sujeitos às intempéries e aos predadores de ovos que imagino serem muitos por aqui.


Não dei muita bola, estes passarinhos andaram me irritando. Volta e meia faziam uma reviravolta na terra, especialmente num determinado vaso de plantas da varanda da frente, que me deixava furiosa. Eu resmungava alto, querendo que eles entendessem a minha indignação, e mas abaixava pra reunia a bagunça deixada no chão. Terra, folhas secas e pedacinhos de pau. Eu não entendia nada e os achava muito atrevidos e violentos. Que a mãe natureza me perdoe mas a sujeira era grande e eu não entendia nada de passarinhos.


Ontem pela manhã notei que a mãe passarinha ia e vinha do ninho. Com o olhar mais atento notei que ela levava comida na bico e rapidamente entendi que poderiam ser para os filhotes recém-nascidos. Peguei um banco, minha câmera fotográfica e com um certo medo de ser atacada pela maezona, posicionei a máquina de forma que o seu visor móvel me deixasse ver o que havia dentro do ninho estando por baixo dele.


Não deu outra, ali estavam três criaturinhas peladas, com cabeça, membros e olhos ainda fechados de um negro inchaço, fazendo com que parecessem ETs. Não sei bem o que senti mas meus dedos instantaneamente reagiram disparando o botão da máquina. A cada clicada as avezinhas respondiam com reflexo e abriam a boca. Um movimento natural, não aprendido e que naturalmente garantiria o resto do processo da gestação.


Felizmente a maezona não se meteu comigo e acho até que ficou apreensiva vendo aquela invasão de privacidade. Caminhava agitada na murinho próximo, talvez se preparando pra atacar caso eu resolvesse colocar a mão na prole.


Hoje fui olhá-los novamente, e lá estavam do mesmo jeito, enroscadinhos entre si, pura pele, pura fragilidade, pulsação de mais de 120 bpm, um potencial de vida impressionante.


E eu aqui com meus botões, vou entendendo certas coisas. Uma delas é que aquela bagunça no meu vaso de planta nada mais era do que o garimpar de gravetos para, talvez aquele ninho, e a outra é que a vida é na maioria das vezes muito silenciosa. Me resta então, aprender muito com os nossos novos hóspedes.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A babação já começou








Desde que soube que vou ser avó, sim isto mesmo, vou entrar pro time daquelas que suprem toda a necessidade de afeto e rebeldia das criaturinhas que chegam a este mundo sem ter noção do que encontrarão pela frente.


Não é de hoje que ando pensando neste assunto, coisa que a pouco tempo atrás eu bloqueava ferozmente. Acho que ainda não estava preparada, talvez, as velhas tarefas de mãe estivessem ainda muito vivas. Não que eu não tivesse gostado da experiência materna, muito pelo contrário, mas a anulação de parte de mim foi intensa, traumática e eu precisava de um reparo, de uma recauchutagem, talvez, um virar de avesso pra ver o que ainda havia daquela pessoa pré-maternidade.



Liberdade, depois que a missão se dá por cumprida, é algo que nos recompensa e revigora, o frescor da juventude reaparece. O cenário antes pasteurizado, permeado por fazeres e não fazeres pertencentes à tarefa de educar os filhos, surge cheio possibilidades porque o novo olhar busca novos significados.


Então, cá estou eu, no prenúncio de uma nova pessoa, sempre na esperança de dias melhores. Os sintomas começam a surgir. Sono, muito sono, acho que é solidariedade com minha filha grávida que só encontra consolo na cama, muita cama. Se sento pra assistir TV, durmo, se vou ao cinema durmo, se o papo é chato, dá um soninho... Mas tudo isto é normal e acontece com toda a torcida da meia idade, que já se declarou a the best.


Levando em conta então este novo estado de espírito, sim, porque acho que ser avó é isto, andei buscando na fotografia o universo infantil. E neste mato sem cachorro, pode faltar cachorro, mas criança é presença obrigatória nos jovens casais que chegam às terras carajenses.


São muitas, mas muitas festas infantis. Todo fim de semana tem pelo menos uma, e os melhores locais para estes eventos são disputadíssimos. Com este mercado certo e crescente, surgem vários profissionais para atender a demanda. Tem gente pra decorar as festas, gente pra divertir as crianças enquanto os pais se regalam com os comes e bebes, gente que aluga brinquedos de parque de diversão, gente que faz docinhos, gente que faz bolo, que prepara os salgadinhos. A concorrência está na área e o mercado ganha cada vez mais novos adeptos e idéias.


Mas voltando as fotos, caminhava pela vila num sábado de manhã, quando soube que haveria o desfile do Sete de Setembro. Retornei à casa, agarrei a máquina e voltei pro centro onde aconteceria o evento. Liguei a câmera e percebi que meu foco eram as crianças. Relembrei meu tempo de mãe na porta da escola, participando de tudo, registrando tudo e, obviamente, me intrometendo em tudo. Mãe às vezes é muito chata. Esta lição estou levando pra minha avónidade onde pretendo cometer só outros bons tipos de erros, naturalmente.



As carinhas eram as mais diversas, mas a inocência... a marca registrada, talvez com data de validade, mas ainda muito fresca, recém fabricada.


Foram muitas fotos, e o prazer foi imenso.


Outro evento neste fim de semana, foi o aniversário da Allyne, que já não é mais criança nos seus vinte e tantos anos, mas se nega a entrar neste mundo adulto sem a alegria, o coração puro, a inocência da sua meninice. Foi uma festa pra criança nenhuma botar defeito. De palhaço a jujuba, de bolas a pirulito, de cama-elástica a cachorro quente, não faltou nem fantasia. Piratas, borboletas, cowboys, Fred e Vilmas, rastafaries, doutores e black powers. A diversão era ver quem chegava e como o quê. Crianças e adultos disputavam as atenções num clima de total descontração.


O djay animava ainda mais a festa e os dançantes entrecortados pelos raios lasers, eram libertados do stress da semana, voltando a ser crianças por uma noite.


E a câmera pendurada no pescoço, não perdia um só momento, o foco era difícil atrás dos meus óculos escuros de gringa, mas o toque no dispositivo disparador não se inibia. Pau na máquina e vamos ver o que vai dar. E foram belas as fotos porque mágica foi a festa.


Fazendo agora um balanço, acho que estou me preparando pra este novo universo, onde o real pouco importa, o bom é viver a fantasia, e imaginar que seremos eternizados nestas novas criaturinhas que acabam de começar a nascer. E isto é só o começo.




domingo, 15 de agosto de 2010

Tem mutuca e mutuca
















Depois de um tenebroso inverno, dois meses no Rio, cá estou eu de volta, apesar de uma certa preguiça pra escrever. Acho que a inércia reinante se apodera de nós seres fadados a viver esta experiência amazônica sem ter nada haver com isto tudo aqui.

Que estranho lugar que apesar do romantismo do ser floresta não nos deixa livre das maldições que a ela pertence e que com mais outro tanto de bendições, fazem dela o equilíbrio perfeito neste planeta em mutação.

Hoje fomos a uma cachoeira. Continuo querendo desbravar as terras vermelhas que cada vez trazem mais riqueza ao país, visto que a China continua crescendo e necessitando ainda muito do nosso excelente minério de ferro. É impressionante ver nesta secura toda - porque agora é verão e chuva por aqui é coisa rara - o pó vermelho entranhando pelas pequenas brechas, qualquer uma, dos carros, das pequenas plantas, das grandes castanheiras, dos pássaros e insetos, é um pó fino que parece entrar pelos nossos pulmões e deixar nossas entranhas áridas como o ar que respiro agora.

Ainda bem que temos muita água pra umedecer a pista por onde os caminhões gigantes carregados de centenas de toneladas de minério passam, num vai e vem de vinte quatro horas por dia. Isto aqui não pára nunca, nem com acidentes fatais que tive notícia na semana passada. Ainda bem que chega água para molhar nossos jardins que parecem palhas e nossa horta que ainda resiste a nossa ausência prolongada até que as torrentes de água recomecem a cair em novembro.

Água não falta por aqui, eu espero que nunca pois esta ilimitada fonte em nossas casas mantém nossa alegria depois de um bom banho e uma roupa bem lavada na máquina, um suco de manhã e aquele copinho d'água em jejum que aprendi a tomar. A década do cinquentenário continua passando e esta água tem que ajudar a irrigar este meu corpo cada vez mais ressecado.

Mas falando em água, nosso passeio eram nas Águas Claras, cachoeira conhecida na região como ideal para banho por causa dos seus poços rasos e límpidos. Própria para crianças, são os adultos que se deleitam nas investidas pela trilha forrada de folhas belas-mortas, na antevisão da grande queda d'água. Nossa atração por água é algo realmente pré-natal, começo a entender cada vez melhor que da água viemos e talvez para ela voltemos. Planeta Água, como diria Guilherme Arantes.

Estávamos em quatro carros e haviam quatro crianças. A expectativa era de que passaríamos uma manhã gostosa com muitos mergulhos e banhos nas águas claras da cachoeira. Estacionamos os carros e começamos a caminhada. Depois de alguns minutos já ouvíamos o seu barulho no meio de tantos assovios e cantos de pássaros. Digo assovio poque aquele pássaro do fiu-fiu estava lá com toda a sua gangue. Não sei de onde aparecem tantos cantadores paqueras, mas enfim, acho que somos bem vindos.

E chegamos a bela linha d'água enchendo poços arredondados, cristalinos que sem pudor mostravam toda sua profundidade. Rasos, gélidos, verdadeiros espelhos dágua. Com pressa tiramos nossas roupas e arrumamos lugar para as mochilas. E depressa chegaram as mutucas, os carrapatos, as aranhas e formigas.

Talvez tivessem antas próximas, nosso geólogo de plantão logo logo anunciou, e sem escrúpulos disse que aquelas mutucas, moscas gigantes, tinham uma picada muito dolorosa e ainda por cima deixavam bernes no nosso corpo, que cresciam e comiam nossa carne.

Sempre digo que a ignorância muitas vezes é coisa bem vinda. Se nosso geólogo, que já havia sofrido de um berne na cabeça que ainda por cima tinha sido extraído pela sogra (acho que não preciso dizer mais nada), não tivesse falado dos atributos do tal moscão, ninguém teria dado a mínima para o inseto e teríamos ficado apenas com o incômodo dos seus ataques.

E para fazer curta uma história que foi curta mesmo porque não ficamos mais que meia hora no lugar, mergulhamos na água mais fria e mais limpa dos últimos tempos, escorregamos na cachoeria, caímos de bunda nas pedras roliças, pisamos no chão raso e irregular e tiramos algumas fotos para registrar o feito. O sorriso saiu fácil, assim como os gritos, enquanto isto nosso geólogo, profundo conhecedor dos matos mineiros e adjacências, nem se quer tirou a roupa e com o auxílio de uma toalha espantava freneticamente as mutucas que pareciam ter encontrado uma excelente vítima. Dentro d'água nos sentíamos refrescados e seguros, nenhum inseto, nem mesmo uma cobra d'água me passava pela cabeça.

Voltamos para casa e a primeira coisa que nosso geólogo fez foi googlar e acabar descobrindo que algumas espécies de mutuca não colocam berne, talvez por isto o gado que povoa as terras desmatadas da região não tenha berne. Resolvido o mistério, a paz voltou a reinar, mas o programa de índio já tinha sido feito. Agora só restava esperar as chuvas, que com certeza, segundo nosso guia engenheiro florestal, levam todos os insetos embora.

domingo, 30 de maio de 2010

30 de maio




Regados a muita cerveja, mais uma vez nossos geólogos bebemoram seu dia. Foi no DEC - Docenorte Esporte Clube, ao som de uma banda de repertório bastante eclético que sacudiu a galera jovem, mais de noventa por cento, pra espanto dos cinquentenários, ou melhor, da blogueira aqui presente que continua naquela fase de olhar pro próprio umbigo e ver que lá se vão aqueles anos em que fazia parte deste frescor da boa idade.

Casais com seus filhotes, se arranjavam pelas mesas e de hora em hora espiavam a garotada que corria livre pelo espaço reservado à festa. Tudo azul... ou melhor, tudo amarelo, as cores da camisa que já prenuncia os próximos encontros na torcida pelo hexa Brasil.

O grupo é grande e parece começar a se afinar, num movimento ainda cerimonioso, de cuidados, de reservas, mas completamente absorvido pela contagiante alegria de se sentir parte. Parte da gangue geológica, da tribo carajense, da cia vale copper. A família parece que está formada e não descuida para que os laços se fortaleçam, na boa, sem discórdia, só alegria.

Enquanto alguns ainda tentam resolver problemas do dia (o telefone não fica desligado), outros se refrigeram no bate-papo nostálgico dos velhos tempos de Bahia e Níquel do Vermelho. São muitas histórias não escritas em papel mas gravadas a ouro, níquel e cobre na memória geológica dos que não sabem viver sem a dureza rochosa.

Foi um calmo e harmonioso evento, como calma e harmoniosa é a floresta que nos cerca. Protegidos? Não sabemos até quando. Prestigiados? O momento é bom. Esperançosos? Sempre. O futuro? Dizem que a Deus pertence, mas esta turma é coadjuvante da melhor espécie. O presente? O prazer de estarmos juntos neste dia do Geológo.






domingo, 23 de maio de 2010

Super radical








Não é preciso dizer que as coisas continuam em ritmo de floresta: aves cantando, cotias enterrando sementes nos jardins, araras sobrevoando as árvores, os quatis até que andam sumidos, mas quem sabe não sou eu quem está mais recolhida no conforto e quietude do lar doce lar?

Pois bem... Na contínua procura do que fazer por aqui, passei pelo DCE, Docenorte Esporte Clube, o único clube e por onde as pessoas transitam mais, vi um aviso sobre uma reunião para instrução de um rapel em cachoeira.

Não é preciso dizer que meus olhos remoeram, remoeram e não acreditaram. Como assim? Tem gente pensando em fazer algo além das fronteiras? Quem serão estes bravos heróis? Registrei a data e horário e lá estava eu, muito desconfiada da veracidade da informação, no local marcado pronta pra ser a primeira da lista na incursão pela floresta. Finalmente algo de novo parecia surgir no marasmo carajense.

Como de costume, o atraso das pessoas foi grande, mas pelo menos elas chegaram e com todo o equipamento à tira-colo: cordas, capacetes, argolas, luvas e uma apresentação em micro sobre o que seria o rapel na cachoeira que fica entre Parauapebas e Canaã dos Carajás. Era o corpo de bombeiros quem nos guiariam nesta empreitada! Eles conheciam a cachoeira, assim como outras, pois fazem treinamento nestes locais.

Então estávamos todos prontos! Depois da apresentação da equipe de soldados e capitão, dos equipamentos e de alguns lembretes sobre roupa adequada e alimentação, saímos da reunião com a sensação que iríamos participar de uma atividade sem dificuldades, de forma muito segura e tranquila. Coisa para qualquer um.

No domingo às 7h da manhã nos encontramos e seguimos em direção ao que seria nossa primeira experiência em rapel. Todos animados sem grandes preocupações, só alegria.

Pegamos estrada, 32 km até a entrada da fazenda que dava acesso à mata onde se encontrava a tal cachoeira. Uma família em casa de madeira, com crias de todo o tipo, além dos filhos, galinhas, porcos, vacas, cavalos, uma super fazenda com energia e água pura e abundante vinda da cachoeira. Um paraízo para aqueles que gostam de um matinho. Uma paisagem que me dizia a todo momento da matança florestal acontecida a não muito mais que duas décadas. Uma paisagem bela apesar de criminosa. Gados pastavam por todo lado e algumas árvores gigantescas, como a castanheira imponente no pé do morro, continuam nos lembrando do passado exuberante daquela região.

Mas deixando de lado o sentimentalismo, na veia já começava correr um sangue quente, ardente por uma aventura na mata densa restante com seu derrame de água que felizmente o homem preservou. Lá no alto nos aguardava o grande desafio mas continuávamos ingênuos, como meninos.

Começamos a trilha, o sol escaldante derretia nos olhos o protetor solar que enxarcamos no corpo. Ardia. O corpo molhado de suor não se importava muito, afinal mais um pouco e nos refrescaríamos nas águas correntes e descendentes da senhora cachoeira.

Chegamos então ao ponto, rápido e relativamente fácil. Todos muito animados e ávidos pela surpresa. Até que nos foi dito para descer um mato alto sem trilha, sem marca no chão. Como assim? E as cobras? Tudo podia aparecer no meio daquele mato.

Sabe aquelas coisas que ninguém diz mas que todo mundo pensa? Pois é, pensei: entramos numa robada. Mas lá estávamos nós e já tínhamos pagado pra ver.

Chegamos logo à cachoeira, e esquecemos por alguns minutos aqueles pensamentos num delicioso banho de massagem nas águas fortes daquela senhora. Pense numa hidromassagem, multiplique por 100 e depois divida toda a força dos jatos no seu corpo inteiro. Se conseguiu, já relaxou sua semana toda de stress. Se não conseguiu, então sugiro que vá até lá pra experimentar a terapia.

Comemos nosso lanche e até pra esquecer a próxima etapa, fizemos render aquele momento. Enquanto isto, nossos bombeiros, preparavam as cordas amarrando-as em árvores. Aprendi que são necessários dois pontos de sustentação de uma corda. Se um falhar, você tem o outro. Mas e se os dois falharem? Estamos fritos. E não me senti um pouco mais tranquila enquanto não olhei estes pontos de apoio e não tirei todas as dúvidas sobre riscos. Depois de uma certa idade a gente vai ficando muito desconfiado, medroso mesmo, quer saber de tudo, se certificar de tudo, entender de tudo. Na verdade o melhor é fechar os olhos e lembrar que um dia fomos jovens. Lembram-se da falta de juízo?

Eu faço uma aposta com quem quiser, de qualquer valor, como pela cabeça de todos ali passou a vontade de dar marcha ré e voltar para o aconchego da sala de televisão ou da rede na varanda com um bom livro na mão. Mas ninguém abriu a boca. O silencio tomou conta do lugar apesar da ruidosa senhora pronta pra jogar pra baixo quem quer que fosse desafiá-la.

Mas havia as cordas e as argolas e os suportes presos ao corpo para nos ajudar, thanks God!!! Havia também a vergonha de falar em casa que amarelamos e não encaramos o rapel. E havia ainda o vexame de dizer em público, eu desisto, pra mim não dá.

Assim, atônitos, calados por fora e gritando por dentro, aguardamos o primeiro voluntário. Se este chegasse lá embaixo vivo e inteiro, nossa insegurança, talvez diminuísse permitindo a candidatura para a próxima vítima.

Peguei a técnica do rapel com o bombeiro guia, foram 5 minutos, e com a corda já no pescoço, quero dizer nas mãos, e de costas para a monstra senhora, respirei fundo, ajustei os neurônios na busca desesperada pela razão, e tentei colocar em prática aqueles pequenos ensinamentos em cima da hora. Tarde demais, não podia rebobinar a fita, o filme já entrava em cena e a platéia em suspense total.

Tudo bem nos primeiros minutos. Eu conseguia concatenar todos os movimentos e ainda descia com segurança. É óbvio que não conseguia olhar pra nada além da corda na minha mão e dos meus inapropriados tenis. Não sei se coloco toda a culpa neles, mas o fato é que num certo momento deslizei, as pernas já não obedeciam aos meus comandos e por mais que tentasse, o limo das rochas fazia chacota do meu Nike. Tombei. A voz do guia dizia pra levantar, e levantei. Tombei de novo. E por umas três ou quatro vezes tombei e aquele pensamento marcha-ré tomou conta de mim. Nem pensar. Força nos braço, força nas pernas. Reaja, você não vai pagar este mico, não é? Então, de repente, meus quadrícepes reagiram e me fizeram encaixar os pés no lugar certo e na hora certa, me restabelecendo o equilíbrio. Ufa! Estava salva. Pelo menos por enquanto, já que faltava ainda mais de 80% de adrenalina pura.

O guia pediu que eu olhasse pra baixo pra curtir a visão bela da cachoeira. Tá maluco? Ver o quê, o meu túmulo aberto, pronto pra me receber? Me neguei peremptoriamente, não havia sombra de dúvida de que esta era uma visão proibida naquele momento.
Me concentrei novamente para poder terminar a missão impossível aos meus olhos. Fiz os ajustes cerebrais, respirei fundo novamente e encarei a virada da rocha, o último paredão, reto, cheio de entranhas que por isto mesmo me ajudaram a firmar os tenis e descer no automático.

Desliguei o automático quando vi alguns arco-iris me cercando e a água batendo no meu rosto me encheram de uma alegria inexplicável. A poucos segundos eu estava cega e agora via tudo colorido, brilhante, refrescante, deliciosamente relaxante. Como pode acontecer? Sei lá, mas o fato é que eu estava viva, e mais viva do que nunca. Chegara ao fim do rapel. Chegara ao fim do túnel e lá havia muita luz.

Depois disso fui pegar minha máquina, não podeiria deixar de registrar os demais membros do grupo, agora vistos debaixo, outra perspectiva, outra realidade.

Cada um que terminava sua façanha vinha contar aliviado o sufoco e celebrar com o grupo a vitória. Alguns planejavam voltar um dia, obviamente depois de esquecer um pouco o episódio, outros já estavam satisfeitos com a experiência que renderia papo pra uma semana.

Voltamos sem maiores dificuldades para a fazenda onde nossos carros estavam estacionados. Parecia uma eternidade desde aquela manhã inocente, despretenciosa, bulcólica, que de uma hora pra outra radicalizou total.

Voltamos e sem maiores dificuldades para o nosso porto seguro, nosso mato sem cachorro. Acho que vou apreciar melhor agora as aves cantando, as cotias enterrando sementes nos jardins, as araras sobrevoando as árvores, os quatis e o conforto e quietude do lar doce lar.

sábado, 15 de maio de 2010

Saindo da inércia




Depois de quase dois meses sem dar o ar da graça, estou de volta. Às vezes dá uma preguiça escrever... não sei o que é, talvez não esteja precisando. Acho que escrevemos mais por necessidade. E no meu caso, este espaço em branco e preto serviu pra aliviar tensões, organizar sentimentos e encarar a realidade.

Hoje, o mato sem cachorro, já não dói tanto assim, pelo contrário, já se mostra como um refúgio, um jeito de isolar as ansiedades, recuperar um pouco do juízo, desacelerar o coração e o pensamento.

Hoje, por exemplo, dois quero-queros resolveram passar o dia no nosso jardim. Andaram pela grama, deitaram ao sol, ciscaram não sei o que no verde molhado e no fim da tarde trocaram uma prosa alta que chamou nossa atenção.

Quer coisa melhor do que observar estas criaturas voadoras que mais parecem gostar do solo e agora de gente também? Suas longas pernas, seu andar elegante e cauteloso, sua leveza e calmaria, seu piar forte e estridente, como não fazer a gente relaxar nesta nova distração birdwatching carajense!?

À noite eles se foram. Atravessei a rua com o propósito de ver as estrelas. É que só consigo vê-las depois da luz do poste que ofusca. E completando um dia de paz, lá estava a via lactea com a constelação quase completa e inegavelmente brilhante.

Hoje foi um dia de calmaria mas não aquela de que venho reclamando, muito pelo contrário, um dia de entrega e puro relaxamento. Sintonia total com o universo carajense.
Será que vou ter que mudar o nome do blog?

domingo, 28 de março de 2010

Faz um ano


Mais de um mês não passo por aqui pra deixar minhas impressões. Será que já faço parte da paisagem, quero dizer, o mato sem cachorro já me amançou, me driblou, me aquietou? Depois de um certo tempo, e já vai lá um ano de aterrizagem neste platô verde (9/03/2009), a gente começa a pertencer ao lugar, a conexão se dá de forma compulsória sem avisar quando nem porque. Só sei que meus olhos procuram mas já não acham novidades, tudo me é familiar, já sei o que encontrarei quando virar a esquina e o bicho que verei na próxima jaula do Zoo.

Novas pessoas vão se juntando a este novo habitat existencial ajudando a preencher o tempo e o espaço que parecem enormes. A distância das pessoas queridas é resolvida com a ponte aeroválica e a folga mensal continua sendo um compromisso comigo mesma. Uma forma perfeita de manter a sanidade e o bom humor, apesar dos nós na cabeça só desatarem depois de uns dois dias do pouso. Mas não há o que reclamar, estamos felizes e comemorando algumas conquistas. Um rápido balanço? Acho que está valendo a PENA.

Numa visita hoje ao Zoológico fiquei surpresa com a quantidade de crianças e adultos presentes. O aniversário do lugar, 25 anos, foi comemorado com exposição de livros, brinquedos, animais expostos (capivara e cachorro do mato), pipoca, refrigerante e pessoas do Museu Emilio Goeldi orientando. Não diria que foi um super evento, pelo contrário, foi simples, diria pobre, mas que conseguiu retirar as pessoas de suas casas.

Fiquei pensando em como poderia ser mais dinâmico este Zoológico, com atividades que atraissem mais adultos e crianças, mas tudo por aqui parece ter um ritmo próprio, lento, sem muitas exigências, e assim o curso da vida carajense só se dá mesmo de forma intensa através dos veios rochosos das minas de ferro e cobre.


A gente vai se acostumando a esta vida pacata, silenciosa, restrita, e acaba se apegando ao novo modus vivendi. Coisas de ser humano...

Há alguns meses vi estas duas onças inquietas, circulando agitadas na jaula, pareciam querer pular o fosso de água e fugir pra floresta. Hoje... esta foi a cena que vi: duas dóceis criaturas em pleno gozo de sua alegria de viver. (qualquer semelhança é mera coincidência)



















sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

As semelhanças

Faz uma semana que vi nosso geológo, sempre de plantão, embarcar de avião para a China, India e Suécia. Com sua malinha de mão parecia um menino no seu primeiro dia de aula: andar confiante, decidido e quase saltitante. Foi na frente como quem quer conquistar o mundo sozinho, aliás já conquistou no imaginário, só falta a concreta sensação do real.

Assistindo pela segunda vez o filme AVATAR, apesar da falta do 3D e da versão dublada agora, não pude disfarçar minha emoção. O cine-teatro, nesta sexta-feira, estava lotado e já não havia fila para a compra de ingressos. Saí de casa cinco minutos antes da sessão e cheguei faltando um minuto, indo a 30km p/h. Uma noite realmente isenta de qualquer estresse e sonorizada pela floresta.

Relutei em entrar quando soube que o filme era duplado. Se há de convir que só mesmo a falta do que fazer neste mato sem cachorro numa sexta-feira a noite, nos faz arriscar uma versão do Avatar desprovida de tecnologia e língua nativa. Outros, sem sombra de dúvida, optariam por afogar as mágoas em aguardente.

Pois bem, aceitei o desafio que me impus e arrisquei ter que sair no meio do filme por completa desmotivação. Paguei os dez reais do ingresso, comprei dois batons, peguei um copo d'água gelada e me posicionei ao fundo, na ponta, para eventual escape.

As luzes se apagaram, a platéia surpreendentemente estava silenciosa, os lugares praticamente todos ocupados e o barulho da pipoca mastigada não incomodava. O filme começa e logo de cara o estranhamento das vozes dos dubladores. Foi aí que o esforço pra não me deixar levar pelo sentimento de estar sendo enganada, começa.

Relaxa criatura, aproveita a bela história, o conteúdo, a mensagem. Afinal o 3D é um luxo e o inglês é apenas uma língua estrangeira. Tire proveito deste momento histórico de estar assistindo a um filme potencial ganhador do Oscar no meio da floresta Amazônica.

E assim, permaneci as duas horas e meia do filme: tomada pelas maravilhas de Pandora, tocada pela humanidade dos Avatars, embevecida pela criatividade e qualidade técnica do filme e reflexiva pela mensagem eco-spiritual-friendly de Avatar.

Qualquer semelhança com a atividade mineradora na Floresta Amazônica, é mera coincidência, mas não pude deixar de fazer esta conexão. Mas minha melhor conexão foi a do herói do filme, que por ter coração puro como uma criança e ser forte como um guerreiro, me lembrou nosso geólogo, heroicamente de plantão, que vai em frente no que acredita e no que dita seu coração.

Fim de noite, a volta pra casa se dá em quatro minutos e claro, sob a proteção das Grandes Árvores.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Pequeno balanço




Cá estou eu, sentada no 'Sá e Pimenta', depois de um delicioso caldinho de feijão mineiro e um café expresso 100% Arabic (assim falou a senhora muito gentil que me serviu à mesa). Cá estou eu, mais uma vez, descendo este Brasilzão em direção ao sul maravilha, com uma breve e providencial parada em BH. Estou me aclimatando de novo ao pó do asfalto, ao som do jazz que toca no ambiente, às pessoas apressadas pra pegar seus voos ou voltar para casa. Ainda estranho meu andar manso, meu sereno estado de espírito, com certeza adquiridos no planeta dos macacos. Cá estou eu tentando arrumar minhas idéias neste blog.

Saindo de Carajás no aerovale hoje de manhã me peguei imaginando uma cena futura quando eu estivesse deixando aquele lugar de vez, a última partida, e não pude deixar de admirar meu sentimento de tristeza e quase um aperto no coração. Pronto, o diagnóstico já havia sido dado: virose. Eu havia contraído o virus carajense e não havia remédio que o curasse, a não ser continuar em repouso, com boa alimentação, musculação leve, amigos pra trocar idéias, algumas aulas de inglês pra ocupar o tempo, trilhas na mata e muita, mas muita sabedoria pra não deixar o vírus se hospedar no cérebro.

Os seres humanos são muito estranhos mesmo, mas surpreendentes. Estou cada vez mais certa de que não há nada, mas nada mesmo neste mundo, que o homem/mulher, não seja capaz de se adaptar. De-lhes um mínimo necessário para sobrevivência e terão um potencial de vida brotando. Talvez nem precise de muito, visto que foi possível um hatiano sobreviver por 15 dias debaixo dos escombros no último terremoto.

Quem até pouco tempo enxergava o 'mato sem cachorro' como uma privação, agora começa a ve-lo como uma possibilidade de libertação. A gaiola nunca esteve fechada e continuará aberta, mas o passarinho agora transita leve, num entre e sai divertido. Não há mais presa pra sair, e a volta é certa, prazerosa e desejada.

Falando em entradas e saídas, mais uma vez o trem Parauapebas-São Luis, se mostrou uma grande escapada. Alcântara foi o novo destino e eu não poderia deixar de registrar o encontro com o mar e sua gente simples do tempo do Império. Muita história pra contar e a vontade de retornar aquele lugar estacionado no tempo, mas de uma paz e beleza inquestionável.

O novo horizonte, mesmo que fugindo da vista no balanço doido do barco que atravessa a Baía de São Marcos, se desponta como mais uma oportunidade, um desafio novo na busca pelo equilíbrio. O jeito é continuar com olhar num ponto fixo, e se o horizonte se move, é só uma questão de ponto de vista.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ano Novo, vida nova

Vida nova pra Leda. Lembram-se dela? Rosileide, aquela que veio do Maranhão pra ganhar a vida no Pará. Aquela que lia manual de aspirador de pó e me emprestava seu celular quando eu ainda não possuia um. Pois bem, após 10 meses em Parauapebas, com casa própria construída num fim de semana, sim porque aqui se constrói rapidamente com algumas tábuas de madeira, lá vai ela de volta pro Maranhão, sua terra natal e de seus 5 filhos cuidados pela avó.

Sem mais nem menos ela junta os poucos pertences que acumulou, anuncia a venda da casa supervalorizada (investimento em terras e imóveis por aqui é retorno certo e lucrativo) e vai pra juntos dos seus filhos com um novo emprego de cozinheira numa cantina de empresa maranhense.

Fiquei feliz por ela e acho que aprendemos um pouco uma com a outra. Sua inteligência me surpreendeu e seu desprendimento me desconsertou. Para a maioria destes maranhenses que saem de suas cidades a procura de emprego no Pará, o pão de cada dia é ganho nas diárias que fazem em casas de família ou em empreitadas nas mineradoras. Não há tanto trabalho pra quem tem pouca escolaridade e a sobrevivência é uma conquista diária. Mas nem por isto eles se mostram desanimados.

Eu e Leda praticamos o respeito uma pela outra, e com muita honestidade e franqueza consegui mostrar que certos hábitos, como por exemplo, calçar chinelos da patroa ou levar frutas pra casa, não são compatíveis com o profissionalismo que se espera de uma empregada doméstica.

Lá foi ela com um currículo feito e impresso por mim que acho que a ajudou a se colocar melhor no mercado. Lá foi ela com minha recomendação de que seja o mais correta possível e procure sempre fazer o melhor. Lá foi ela com a certeza de que terá mais uma boa referência a ser incluída no seu currículo. Lá foi ela feliz ao encontro dos filhos e do emprego almejado.

E enquanto isto, Ronilda, recomeça sua vida fazendo diárias na nossa casa.

O mesmo aspirador que Leda manipulou com destreza, deixou Ronilda ressabiada, sem muita crença de que a máquina substituiria sua vassoura. Mas com os olhos arregalados de espanto me revelou ao usá-lo na sua primeira vez: -Dona Miriam ... mas o homem faz mesmo coisas incríveis!!! E a vassoura ficou esquecida num canto.

Conversamos um pouco, mas já pude perceber que é outra mulher de fibra. Seu gosto por limpeza chega ser obssessivo e a preocupação com a qualidade do seu trabalho é algo raro na categoria. Acho que estou com sorte.

Nós três, então, entramos o Ano Novo de pé direito e tenho fé de que estamos indo na direção certa.