domingo, 6 de dezembro de 2009

E no meio do caminho ...

Testemunhos de rocha organizados em caixas de madeira

Vistas de uma das cavas da antiga mina de Igarapé-Bahia



Magnetita presa ao ímã de uma caneta

Testemunho de rocha

Há convites irrecusáveis, e um deles veio de repente e imediatamente eu disse SIM.
Sábado de manhã bem cedo saímos de casa depois de acordados pelo turbilhão de água que caía dos céus, nos lembrando mais uma vez que a estação chuvosa bate à porta continuamente e com a força de quem quer derrubá-la. Acho que já contei que neste mato sem cachorro chove canivete, foice, enxada, ancinho, marreta, tudo de uma vez só. Chove a cântaros (wow, caiu muito bem esta expressão)!!!

Nos vestimos, tomamos café e aguardamos a chegada de nosso guia. O principal propósito era olhar alguns testemunhos de rocha e tornar crível que a 100 km de Carajás, numa antiga mina de ouro desativada, as chances de uma nova mina de cobre não eram nem um pouco remotas. Entre dois geólogos, amigos de longa data, dentro de uma super caminhonete recheada de EPI (equipamento de proteção individual), minha pessoa não parava de levantar questões ao longo da estrada que corta as grandes cavas da mina de ferro e rasga a densa floresta amazônica.

Como não aproveitar dos dois experts in rocha, guias perfeitos nesta incursão nas entranhas da Terra?

O tempo estava nublado e a dúvida sobre se era apenas neblina ou fumaça das queimadas ainda comuns nesta região, pairava no ar. Os buracos na pista vermelha (presença marcante do ferro), faziam nossos esqueletos pularem no limite de nossos cintos de segurança. Atentos esperávamos que alguma onça preta, parda ou pintada aparecesse para nos presentear os olhos. Mas não descansávamos os ouvidos daquela conversa sobre depósitos, minas, viabilidade, smelters, investimento, projetos, etc, etc, etc.

O verde nos acompanhava sem descanço, floresta virgem de vez enquanto mostrava-se muito presente na forma de árvore caída transversalmente na estrada. Felizmente alguém já haviam aberto passagem possibilitando acesso fácil. Mas percebi que há sempre surpresas nesta região inóspita, onde o geólogo insiste em adentrar e romper a linha tênue que nos separa da nossa natureza primitiva.

Finalmente chegamos a antiga mina de Igarapé-Bahia (ouro), hoje projeto do Alemão (cobre) e pra minha surpresa, lá estava, como nos filmes de faroeste americano, não uma cidade fantasma, mas uma mina fantasma. Pude sentir os fantasmas rondando, operando máquinas, trabalhando nos escritórios, detonando cavas, subindo e descendo rampas em seus caminhões gigantes, num ininterrupto movimento típico da atividade mineradora.

Imaginei que os fantasmas, ainda vivos, e agora perambulando por minas em atividade, se voltassem a Igarapé-Bahia, iriam rewind a fita de suas vidas e quem sabe se emocionar com o passado. Passado ainda muito presente e vivo pois a natureza deu um jeito de preencher as grandes cavas com água verde, profunda, virgem, formando um cânion com encostas serrilhadas, marca indubitável de que um dia uma mina esteve aqui. Um espetáculo criado pelo homem em parceria com a natureza!

Começamos nossa viagem de volta e eu já considerava meu dia ganho, quando no meio do caminho tinha uma ... E esta é uma postagem a parte, mas que se dará na forma de vídeo, pois a câmera saltou de minhas mãos e registrou o feito de nossos geólogos. http://www.youtube.com/watch?v=pGRYALhv2ts

Mais que depressa eles removeram outro obstáculo nesta aventura por um simples olhar de testemunho de 400 metros de profundidade, cheio de calcopirita, bornita, magnetita, e outras itas mais que não me lembro o nome. Me lembro sim da sua beleza, o que talvez seja o mínimo diante da infindável busca geológica neste nosso PLANETA AZUL, verde, vermelho, preto, amarelo, branco ...

Voltamos ainda a tempo de preencher o único vazio restante, nosso estômago que agora dava sinal de vida.

2 comentários:

  1. Mirian,
    òtima narrativa. Perfeita sua sensação ao se deparar com uma cava desativada.
    Lembranças ao seu guia e companheiro.
    Continua tentando e apanhando para dar vida ao nosso blog. Quando edito, descubro a praga de um s(esse) que ficou esquecido e adeus concordância. Mas super vale a pena. O vejo como uma sardinha solitária e perdida dentro deste monstruoso ( enorme) cardume virtual .

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  2. Meu querido blogueiro, te entendo perfeitamente e te digo que é melhor continuarmos senão o bicho pega.

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