quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Tudo pode acontecer

Sentei pra começar a escrever quando ouvi um barulho estranho lá fora. O quarto que uso como escritório e sala de aula fica de frente para a rua, em seguida tem um gramado que termina na floresta. Ou seja, ouço os mais diversos sons. Agora, por exemplo, estou ouvindo o som das cigarras (é fim de tarde) entremeado por cantos de pássaros. Aliás, pássaros aqui é o que não falta.

Bom, mas eu estava falando do som estranho. Pensei em pessoas cantando ao longe, me lembrei até dos rapazes e moças do IME (Instituto Militar de Engenharia) que fazem sua educação física pelas Praias Vermelha e de Botafogo, e que sempre chamam à atenção da vizinhança pela ordem, disciplina e até beleza das músicas ritimadas que cantam, talvez pra ajudar no enfadonho exercício. Imagine estes meninos muito bem aplicados e versados nos números correndo pelas ruas de Botafogo. Só cantando mesmo pra espantar os males.

Volto, então, ao som estranho. Sai da casa e fui até a rua, mas não pude reconhecê-lo. Pensei nos macacos que volta e meia começam a cantar do nada. Como agora por exemplo, estão a berrar e para dar uma idéia de como é o som, pense no barulho daquelas conchas grandes do mar que quando colocamos o ouvido, temos uma sensação de oco e ao mesmo tempo de barulho de mar. Mal comparando, acho que se multiplicarmos este som por infinitas vezes, teremos o som destes guaribas no fim de tarde.

Mas voltando de novo ao som estranho, lamento disapontar, mas não sei o que era. Quem sabe eram índios colhendo castanhas, que é atividade frequente na mata, ou quem sabe estavam em algum dos rituais indígenas.

Acho que estou viajando demais nestes sons mas o fato é que tudo e nada acontece por aqui. É um paradoxo totalmente pertinente. Principalmente se pensar que carona pra índio é algo que não damos todo dia. Ontem aconteceu do Beto estar subindo a serra de Carajás, quando na portaria lhe pediram pra dar carona a um índio que iria pegar sua índia no hospital. Ela havia sido operada de vesícula no Hospital Yutaka Takeda, no núcleo de Carajás.

Beto chegou em casa me contando logo. Estranhei, pois normalmente chega calado e é preciso algum tempo até que, sob o efeito da enxurrada de perguntas que faço, solte algumas palavras. Mas estava indiginado pelo machismo do índio. Me disse, então, que depois de alguma prosa com o indígena, ele falou que a mulher tinha tirado umas pedras da vesícula.

Nada demais, até ele dizer que foi tudo por culpa da índia que não limpa o arroz direito e aí, as pedras vão pro corpo dela.

Mas como eu ia dizendo, tudo por aqui pode acontecer. E como sabedoria indígena é pra se levar em conta, por favor catem muito bem as pedrinhas que encontrarem no arroz, e na dúvida, as que encontrarem no feijão também. Depois enterrem as pedrinhas. Quem sabe não nasce uma plantinha cujo chá exploda os miolos deste macho indígena.

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