domingo, 4 de março de 2012

Entrando no clima







Assistindo ao Globo Repórter de sexta passada, percebi o quão familiar estou do que foi mostrado sobre a Amazônia. Me pareceu muito óbvio saber que aquele som, que o repórter tentava nos fazer adivinhar, era o do guariba, e não o som de um "ronco" como ele associou. Aquele era o grito inconfundível daqueles primatas. Só um leigo não saberia reconhecê-lo.

Como assim? Leigo? E eu sou lá alguma expert in Amazônia? Pois é... depois de um certo tempo neste mato-sem-cachorro, a gente fica meio sabidinha, e sabe o por quê? É só ir até a varanda e avistá-la, assim mesmo, bem perto, menos de cem metros a frente. Lá está majestosa, pomposa, intocável, verde como nunca, surpreendente nossa Amazônia.

Quando na reportagem, aquela onça pintada foi filmada à noite rondando o acampamento dos cientistas aventureiros naquelas bandas da Guiana, e o repórter fez o maior suspense como tendo sido um ato inédito, eu pensei... ora que coisa mais comum e sem graça. Sim porque na semana passada nosso geólogo-sempre-de-plantão me trouxe uma foto colorida da onça que ronda ininterruptamente o alojamento do projeto de cobre. Ela está à procura de carne humana, já que a última investida foi frustrada. A moça atacada está viva e apenas aguardando outra cirurgia plástica no rosto deformado pela mamífera. Ih, será fêmea mesmo?

Na reportagem, um dos cientistas diz que ficou surpreso de ver as araras tão de perto, seu colorido, sua beleza, era sua primeira vez, normalmente elas voam alto e só se vê uma mancha escura passando no céu. Engano dele, por aqui as araras pousam nas árvores e voam baixo nos deliciando com sua beleza e cantoria.

O tamanduá gigante que a cientista teve dificuldade em fotografar, já foi vista na estrada por nosso geólogo-sempre-de-plantão nas viagens aos projetos. Sem falar nas antas que podem ser vistas passeando livres no zoológico, ou as investidas em bando dos quatis nas mangueiras nos quintais das casas (eles adoram manga).

Uma das coisas que mais me surpreendeu numa das primeiras investidas pela floresta, logo que viemos morar aqui, foi uma minúscula perereca que encontramos na canga por onde passávamos. Um geólogo amigo a pegou e explicou que o que ela tinha de tamanho, não se comparava ao veneno mortal que continha. Assistindo a reportagem fiquei pensando no perigo que aqueles cientistas corriam ao pegar aquelas pererecas, não tão pequenas como a que vimos, mas talvez igualmente venenosas. Eles estavam maravilhados com elas.

Isto tudo pra dizer, que hoje já olho com outros olhos as reportagens sobre a Amazônia, e que me sinto muito mais próximo deste "planeta verde". Mas há um novo desafio que venho tentando vencer, e este sim, pode ser dos maiores: cantar no Kuarup.

Estou participando do Grupo Folclórico Kuarup. E sexta passada foi minha primeira apresentação cantando. Sim... ainda não me soa muito bem esta nova função, cantora, mas eles precisavam de gente, eu precisava de mais um motivo pra estar por estas bandas, eles toparam me ensinar, eu topei colocar a voz pra fora, então ficamos acertados. Depois de dois ensaios, lá estava eu com a cara mais lavada do mundo, tentando me entender ribeirinha no meio de tantas saias, e curimbós, e maracas, e banjo, e violão, e cordas, e flores, colares, brincos, maquiagem, e gente experiente que parece deslizar no passo do carimbó.

Acho que é preciso dizer que a apresentação foi boa, apesar de mim, e que continuo tendo a chance de melhorar. Potencial parece que tenho, agora é só treinar, treinar, treinar e treinar muuuuuito pra quem sabe me sentir muito desejada no grupo. Quanta pretensão, hein? Mas aprendi que muita coisa nesta vida é alcançada com motivação. E me parece que a motivação por aqui é questão de sobrevivência. Portanto, vamos à luta, vou correr atrás do talento, quem sabe ele está escondido nestes novos sons e imagens da gente Amazônica.

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